Dessecação antecipada de pasto aumenta o ganho financeiro
Com a adoção da medida, pelo sistema de integração lavoura e pecuária, agropecuarista eleva ganho em 200%
O que parecia improvável acabou se revelando em quebra de paradigma, conforme experimento científico que antecipou em 135 dias o tempo de dessecação da pastagem antes do cultivo da soja, seguido do cultivo de milho. Pelo sistema de integração lavoura e pecuária, costumeiramente a dessecação é feita apenas 15 dias antes, para manter o gado o maior tempo possível no pasto.
O estudo desenvolvido na Fazenda Experimental da Unoeste promoveu antecipações escalonadas em até 150 dias, sendo que esse prazo apresentou os melhores resultados, capazes de elevar em 200% o ganho financeiro do agropecuarista, considerando a lucratividade em relação ao tempo de manejo da dessecação.
No experimento conduzido pela engenheira agrônoma Rita de Cássia Lima Mazzuchelli, as dessecações ocorreram aos 15, 30, 60, 120 e 150 dias. No primeiro ano de cultivo (2014) a produção de soja foi de 33 sacas por hectare na área com dessecação de 15 dias e 66 sacas com 150 dias. O milho saltou de 65 para 117 sacas.
No segundo cultivo (2015), mesmo num período de estiagem, a soja rendeu 51 sacas na área inicialmente dessecada com 15 dias e 60 sacas na de 150 dias. Entre o primeiro e o segundo cultivo, a braquiária, cultivar Marandu, foi semeada em meio a lavoura de milho e dessecada assim que terminou a colheita.
Entre os períodos menor e maior de dessecação do primeiro cultivo, a diferença é de 135 dias, nos quais, se o boi permanecesse no mesmo pasto para engorda, considerando duas cabeças por hectare e com ganho de peso de 800 gramas/dia, o resultado econômico representaria R$ 1 mil, diante de cálculos superestimados para o peso e preço da arroba, pela cotação do começo desta semana.
Em cálculos reais, a produção agrícola atingiu R$ 3 mil por hectare, em preço de cotação agrícola também desta semana. Portanto, R$ 2 mil a mais, ou seja: 200%, considerando o período da dessecação, já que o tempo do ciclo da soja é igual em qualquer cultivo.
Utilizando a técnica da dessecação e o sistema lavoura pecuária para reforma do pasto, pelo modelo de tempo convencional o agropecuarista produziria, de acordo com o resultado de primeiro cultivo, exatamente o dobro. Uma consequência dos impactos da atividade microbiana no solo, pelo processo de dessecação do capim.
O mestre em microbiologia e doutor em agronomia Fábio Fernando de Araújo explica que, pelo processo de dessecação, a pastagem vira matéria orgânica e penetra no solo. O experimento mostrou que em mais tempo a decomposição é maior e, por consequência, a penetração é mais intensa.
A autora do estudo explica que nos cultivos de soja e do milho foram utilizadas as adubações recomendadas para tais culturas. Conta que a ideia, ainda que inicialmente parecesse improvável, instigou a pesquisa sugerida pelo doutor em produção vegetal Edemar Moro, seu professor na graduação e pós-graduação da Unoeste.
A mesma instituição na qual desde o início deste ano é professora nos cursos de Agronomia e Zootecnia, função para qual abdicou da bolsa do Programa de Suporte à Pós-graduação de Instituições de Ensino Particulares (Prosup), disponibilizada à Unoeste pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da Educação.
“Conseguimos inovar e quebrar o paradigma em relação ao tempo longo de dessecação”, diz Rita em relação ao período (135 dias) oito vezes a mais que o convencional (15), sobre o estudo que desenvolveu no doutorado vinculado ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Agronomia, com orientação de Araújo.
A defesa da tese foi avaliada e aprovada, terça-feira (16) pelos doutores Ceci Castilho Custódio, Carlos Sérgio Tiritan, Mariangela Hungria da Cunha e Gustavo Pavan Mateus, sendo os dois últimos convidados, respectivamente, junto a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Empraba) em Londrina (PR) e Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) em Andradina (SP).
Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste