Estudo concebe rede social como meio para produzir pesquisa

Em conta criada em rede de relacionamentos sociais há pouco mais de dois anos, uma comunidade fechada e de caráter multiprofissional deu início às atividades do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Currículo e Tecnologias (Gepecet), que é vinculado ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação da Unoeste. Observação e análise científica sobre as interações dos participantes em relação ao compartilhamento de conteúdos, associada à aplicação de questionário, deram sustentação ao estudo que culminou por conceber o Facebook como plataforma para produzir pesquisa.
 
A consultora em higiene sanitária, especialista em gestão de segurança de alimentos e com experiência docente em ensino técnico Cecília Maria Prates de Freitas levou em consideração que na sociedade conectada a aprendizagem pode ocorrer em diferentes lugares, ultrapassando os limites de sala de aula convencional. Porém, o questionamento era como essa situação poderia se processar em uma plataforma voltada para abrigar redes sociais; mais afeita em promover relações de cunho popular e, pelo menos teoricamente, longe da erudição ensejada pela produção científica.

Estimulada pela pesquisadora científica Dra. Raquel Rosan Christino Gitahy, uma das líderes do grupo, a autora do estudo desenvolveu o trabalho para saber se a rede social poderia ser usada para pesquisa em educação. Junto ao grupo de 37 pesquisadores extraiu os perfis de cada um, as interações e as ferramentas do Facebook por eles realizadas; aplicou questionário pelo Google docs e promoveu cinco categorias de análise: conteúdos significativos, aprendizagem colaborativa, relatos de experiências, visibilidade do grupo (sobre suas produções científicas) e reflexo sobre a ação.

Foto: João Paulo Barbosa

Cecília Maria conta que todas as ações do grupo ocorreram exclusivamente em rede, embora, no início, vários integrantes tivessem questionado sobre possível necessidade de encontro presencial. Porém, com o passar do tempo viram que era possível obter resultados com as interações online e agradeceram por participar. “É um espaço no qual todos se sentem acolhidos e onde podem compartilhar experiências. A plataforma utilizada, embora tenha como proposta a rede social, também serve para a construção de conhecimento na área da educação e nos permitiu até realizar seminários”, conta.

Dentre as conclusões encontradas pelo estudo está a de que o Facebook se mostrou como um novo espaço de pesquisa, capaz de promover formação aberta e aprendizagem colaborativa. “Permitiu compreender que as vivências e discussões ocorridas no grupo possibilitaram o desenvolvimento de novas práticas pedagógicas quanto ao uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) e evidenciaram que a rede social Facebook se mostrou um ambiente de aprendizagem e formação para o professor pesquisador”, pontua. O estudo de Cecília Maria resultou em sua dissertação no Mestrado em Educação, surpreendendo o próprio grupo que, inicialmente, não havia pensado nessa possibilidade.

A Dra. Adriana Aparecida de Lima Terçariol, outra líder do grupo, chama a atenção para o fato de se consolidar uma pesquisa pelo Facebook, exatamente por evidenciar o potencial que a plataforma de rede social oferece e cujo tema resultará em breve nas publicações de pelo menos dois livros: um do grupo e outro da dissertação que levou Maria Cecília a obter o título de mestre em Educação. A Dra. Danielle Aparecida do Nascimento dos Santos, autora de vários estudos sobre tecnologia e educação e que também integra o Gepecet, entende ter sido válido trabalhar a formação de pesquisadores em uma rede que foi criada com outros objetivos.

Conforme a Dra. Raquel a pesquisa e a dissertação em relação as ações do Gepecet consistem em um estudo absolutamente novo, sendo que na elaboração do embasamento teórico não encontraram nenhuma publicação nesse sentido. No mais, a dissertação oferece a sistematização do passo a passo de como um grupo de pesquisa pode dar certo por meio do Facebook, ao relatar o experimento que chama a atenção e já despertou o interesse, por exemplo, da graduação em Direito da Unoeste, exatamente por se tratar de um processo de educação inovadora mediante o uso da tecnologia.