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Redescoberta da África é capaz de corrigir imagem deformada

Continente de 54 países possui história repleta de feitos extraordinários, que dignificam em muito o seu povo


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Foto: João Paulo Barbosa Redescoberta da África é capaz de corrigir imagem deformada
Realização do Café Filosófico, no Dia da Consciência Negra
Foto: João Paulo Barbosa Redescoberta da África é capaz de corrigir imagem deformada
Mesa-redonda: Graziella e os doutores Santos, Waldman e Fátima
Foto: João Paulo Barbosa Redescoberta da África é capaz de corrigir imagem deformada
Dr. Waldman durante a conferência “A Redescoberta da África”


O povo africano é referência positiva na construção da história das civilizações e, particularmente, tem uma presença tão intensa no Brasil que os brasileiros não conseguem passar sequer um momento sem a África. A constatação é do antropólogo Maurício Waldman, professor do Centro de Estudos Africanos da USP e coautor de “Memória D’África: a temática em sala de aula” (Cortez, 2007), juntamente com Carlos Serrano. Conferencista do Café Filosófico, realizado na Unoeste em comemoração ao Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, o também especialista em África Austral promoveu, para seleto público de pesquisadores e estudantes de pós-graduação stricto sensu, ampla e profunda reflexão sobre a importância do continente composto por 54 países.

Em “A Redescoberta da África”, conferência que Waldman preferiu tratar como bate-papo, a fala inicial foi sobre o nome do continente, visto como força geradora de significados e de hermenêutica complexa. Disse que ‘Afri’ significa calor ou ausência de frio, o que não é apenas um detalhe, por se tratar de um espaço eminentemente tropical. Fato que estabelece elo ambiental nas relações de Brasil e África. Ligação que vai mais além de questões vividas no cotidiano dos brasileiros: música, dança e comida. Porém, a força africana não se restringe ao maior país da América do Sul, igualmente tropical. Remonta ao Egito como civilização africana, conforme registros em obras milenares, nas quais aparecem povos negros.

Todavia, em relação ao Brasil tudo se torna mais intenso. Está na linguagem e não é apenas no vocabulário, mas na construção fonológica, no jeito de pronunciar as palavras. Está na mesa do dia a dia, no prato indispensável dos brasileiros: o arroz. O que não se restringe ao comer, pois foi adotado o mesmo jeito de cozinhar com óleo, cebola, alho e água. Hábito introduzido pelos quilombolas. Além do arroz nativo da África (substituído pelo asiático), muitos outros produtos, especialmente consumidos pelos brasileiros, são de origem africana. Alguns deles: quiabo, manga, malagueta, manjericão, maxixe, tamarindo, melancia, tremoço, agrião, feijão, coco e banana. A presença africana em território brasileiro ainda é vista na fauna e na flora, nas gramíneas para pastagem, em vários setores produtivos e até no chapéu de praia.

Waldman ainda elencou criações africanas como a metalurgia, matemática e arquitetura, para defender a reconstrução da imagem do continente que sofreu um processo de desconstrução, tendo sido estereotipada e deformada. No século 19, alemães escolheram a Namíbia para construir o que definiam como raça de senhores, para mandar nos africanos criadores de gado, aos quais classificavam como selvagens. Houve resistência e os invasores praticaram extermínio em massa, sendo que em algumas situações eliminaram mais de 90% dos guerreiros. Os refugiados em Botsuana, amparados pelos ingleses, retornaram somente depois de terminado o domínio alemão. O autor do método de extermínio, o antropólogo e educador Eugen Fischer, ao se tornar reitor da Universidade de Berlim, orientou alunos como o holandês Hendrik Frensch Verwoerd que migrou para a África do Sul e implantou o Apartheid.

Ao ir pontuando acontecimentos históricos, o conferencista afirmou que todas as formas de opressão estão interligadas, citando que quem não gosta de negro, também não gosta de judeu, não gosta de homossexual e assim por diante. Na resistência africana surgiram os quilombos. O mesmo ocorreu no Brasil, único país que, ao adotar os acampamentos armados, manteve o nome de quilombo. Aqui, o símbolo da resistência foi Zumbi, degolado, após 14 anos de luta, em 20 de novembro de 1695, no Quilombo dos Palmares, em Alagoas. Lá, ficou como símbolo a chefe guerreira angolana Rainha Nzinga (1582-1663) conhecida como Ginga, que durante 40 anos lutou contra o tráfego de escravos, sem jamais ser capturada. Morreu aos 82 anos.

A palavra Ginga virou verbo no Brasil, que serve para descrever o drible do jogador de futebol, o rebolado da mulher sedutora, o molejo do sambista e a agilidade do capoeirista, além de estar associada à expressão jogo de cintura. Levando em conta a proposta do café da manhã nesta quinta-feira (20), no Hotel Escola Sant´Ana, que era filosofar, Waldman possibilitou que ficasse em aberto um leque de reflexões. Fato é que deu ao negro, notadamente ao africano, o valor merecido; o que é válido para os afrodescendentes que passam de 100 milhões no Brasil e devem chegar a 115,7 milhões em 2042, quando a população geral deverá atingir 228,4 milhões, conforme estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A fala de Waldman foi encerrada com a seguinte lenda africana de Iorubá: Diz assim, Olofi: O Senhor que tudo criou – o bem e o mal, o bonito e o feio, o claro e o escuro, o grande e o pequeno, o cheio e o raso, o alto e o baixo – criou também a Verdade e a Mentira. Fez, no entanto, a Verdade forte, marcante, bela, luminosa; e fez a Mentira fraca, feia, opaca. A Mentira sentiu inveja da Verdade e queria eliminá-la. Certa ocasião, a Mentira defrontou com a Verdade e a desacatou. Brigaram. Empunhando sua foice, a Mentira, com um golpe, degolou a Verdade. Esta, vendo-se sem cabeça, começou a procura-la tateando por volta. Apalpa um crânio que supõe ser seu. Com esforço agarra-o e arrancando de onde estava, coloca-o sobre seu pescoço. Mas aquela era a cabeça da Mentira. Desde então, a Verdade anda por aí enganando toda a gente.

Debate – Ao final da conferência foi instalada mesa-redonda para debater o assunto, na qual atuaram como debatedores os doutores Genivaldo Souza Santos e Maria de Fátima Salum Moreira, e mediadora a professora Graziella Plaça Orosco de Souza. A realização envolveu a Pró-reitoria de Extensão e Ação Comunitária (Proext), o Programa de Mestrado em Educação e o Programa de Mestrado em Meio Ambiente, com apoio da Faculdade de Comunicação Social de Presidente Prudente (Facopp), que enviou equipe para filmar o evento. Na abertura, Waldman se dirigiu em agradecimentos especiais aos participantes da mesa e à coordenadora de ações extensivas gerais da Proext, Aparecida Martines; e fez deferência à Dra. Zizi Trevizan, por sua produção intelectual. Também esteve presente a coordenadora do mestrado em Educação, Dra. Camélia Santina Murgo Mansão.

Antes de começar a conferência falaram a assistente social do Lar dos Meninos, Telma Lúcia Aglio, e a orientadora artística do Projeto Criança é Vida, Cida Camargo. A decoração do espaço de convivência e do auditório foi com trabalhos produzidos por crianças do Parque dos Pinheiros, bairro onde a instituição mantém o Centro de Apoio à Família (CAF). Com motivos africanos, a decoração foi feita com máscaras e em papel machê sobre telhas. Trabalhos artísticos realizados no projeto com foco para a identidade negra.

Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste

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