Segunda-Feira, 17 de Dezembro de 2018

Você conhece a qualidade da água que bebe?

Estudo analisa três marcas de água mineral comercializadas em Prudente e conclui que são impróprias para consumo  

  • Foto: Marcelo Gomes Você conhece a qualidade da água que bebe? Giovanna com o professor Elson Felici (dir.) e o técnico de laboratório Daniel Ângelo Macena

Se você tem o hábito de ingerir apenas água mineral, talvez nunca tenha se questionado sobre a sua qualidade, pois se presume que, por ser mineral, está livre de qualquer contaminação, não é?! Porém, saiba que nem sempre é confiável. Pesquisa científica realizada no curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Unoeste analisou os aspectos físico-químicos e microbiológicos de três marcas de água mineral, envasadas em galões de 20 litros, que são comercializadas em Presidente Prudente. O objetivo foi avaliar a qualidade de acordo com as legislações pertinentes. O resultado não foi satisfatório e coloca toda a população em alerta.
 
Em todas as amostras encontrou-se grande volume de bactérias heterotróficas; uma delas apresentou coliformes fecais; a outra mostrou quantidade elevada de nitrato; e todas apresentaram coliformes totais, sendo uma com quantia bem superior do permitido pela legislação (Resolução RDC nº 275/2005), explicou a autora, Giovanna Paola Teixeira, aluna do 8º termo da graduação. A pesquisa foi desenvolvida sob a orientação do professor Elson Mendonça Felici, com auxílio do técnico de laboratório Daniel Ângelo Macena.
 
A estudante conta que o interesse em analisar a qualidade da água mineral surgiu durante as aulas de Gestão dos Recursos Hídricos, quando o professor da disciplina comentou que as águas minerais contêm microrganismos, enquanto a água proveniente das estações de tratamento de água, devido ao tratamento realizado, não contém. “Realmente, a grande maioria da população duvida da qualidade da água que chega à torneira de casa e passa a consumir água mineral devido ao desconhecimento do conteúdo, acreditando ser ‘limpa’ e que não oferece risco à saúde”.
 
O estudo também levantou contradições nas próprias legislações que preocupam, como, por exemplo, na quantidade de nitrato. Isso porque, segundo Giovanna, a legislação específica de águas minerais (Resolução RDC nº 274/2005) é mais branda, e aceita volume de nitrato cinco vezes maior que a quantidade máxima permitida pela Portaria nº 2.914/2011 que dispõe sobre a qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.
 
“Uma das marcas também apresentou um pH ácido, com valor abaixo ao estipulado pela Portaria de Potabilidade. Também foi constatada uma divergência entre algumas informações contidas nos rótulos dos galões e os resultados das análises, deixando dúvidas em relação à veracidade dos outros parâmetros contidos nos rótulos”, frisa a aluna, concluindo que as três marcas analisadas, de acordo com a legislação, são impróprias para o consumo. Ela destaca ainda que, segundo a legislação, as águas minerais ou de qualquer outro tipo usada para consumo humano não devem conter microrganismos patogênicos e que a água mineral tem que ser envasada tal como flui da fonte.
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Consequências à saúde
O técnico de laboratório Daniel Ângelo Macena explica que os coliformes totais são considerados não patogênicos, ou seja, não causam doenças. De qualquer forma, a legislação estabelece um limite permitido; enquanto os fecais são patogênicos e não podem aparecer em hipótese alguma. Quanto às bactérias heterotróficas, Macena explica que acaba funcionando como um indicador. “É um tipo de microrganismo que não produz o seu próprio alimento, então precisa buscar uma fonte para se alimentar, que normalmente é rica em carbono, consequentemente, se existe muito dessa bactéria no meio, indica ser uma água rica em matéria orgânica, ou seja, pode ser que neste local exista despejo de efluentes, entre outras condições prejudiciais”, pontua.
 
As consequências na saúde humana estão voltadas principalmente às doenças no trato intestinal, como diarreia e intoxicação alimentar. O professor orientador do estudo destaca que quando a água comum sai da estação de tratamento já é considerada potável, já a mineral não é possível ter esse controle. Por outro lado, a contaminação tanto da água mineral quanto da comum pode ser proveniente do armazenamento. Nas casas é importante manter em dia a limpeza da caixa-d’água, por exemplo.  E da mineral, a contaminação pode ocorrer no processo de envase.
 
Quanto ao nitrato, Macena ressalta que existe um limite permitido e, além de ser altamente cancerígeno, outro problema da presença desse elemento é a doença metemoglobinemia, conhecida como a síndrome do bebê azul. “A concentração do nitrato preconizada para criança é bem menor do que para adultos. São várias complicações, como no coração”.
 
Engenheiro humanista
O professor orientador do estudo destaca que o curso também está voltado à área sanitária, muito ligada à saúde pública. “Essa ideia partiu da Giovanna, e é muito bom quando vemos essa iniciativa do próprio estudante. O meio ambiente e a saúde pública caminham juntos, pois onde não tem água tratada tem mais gente com doenças; onde não tem coleta de esgoto tem mais atendimento no SUS. Então, o engenheiro ambiental e sanitarista é fundamental em todos os aspectos”, frisa.
 
Ideia já compartilhada pela autora da pesquisa. “O engenheiro ambiental e sanitarista é o profissional responsável por analisar os impactos ambientais, propor soluções e desenvolver técnicas para a preservação do meio ambiente, sempre visando o desenvolvimento sustentável. Atuando com questões, muitas vezes, diretamente ligadas à saúde pública, que trazem benefícios para a população, tais como técnicas de tratamento de água e esgoto, gestão de recursos hídricos, gerenciamento dos resíduos sólidos, recuperação de áreas degradadas, entre outros”, finaliza.

Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste

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