Encontro reúne profissionais do Direito e da Saúde
A Unoeste, em parceria com a OAB-Subseção Guarujá, realizou a roda de conversa “Os riscos legais e psicossociais em crianças e adolescentes, no dia 31 de outubro, com as presenças de especialistas que analisaram os desafios que afetam a infância, promovendo uma visão crítica e interdisciplinar sobre o tema. O evento teve a mediação do presidente da OAB-Guarujá, Marcelo Henrique Garcia Ribeiro.
O secretário de Desenvolvimento e Assistência Social guarujaense, Rafael de Souza Carvalho, iniciou o evento apresentando os serviços disponíveis no município para atendimento de crianças e adolescentes, sobretudo, em situação de vulnerabilidade social. Entre eles, os Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), órgãos e entidades de acolhimento. Além disso, ele explicou os protocolos que a cidade desenvolve na prevenção dos casos de bullying e violência.
“Casos que acontecem dentro do universo escolar, quando identificados, são remetidos à Secretaria de Assistência, que faz um trabalho com as famílias. Mas nem sempre esse trabalho é fácil. Guarujá tem cerca de 300 mil habitantes e temos no CadÚnico 94 mil habitantes. É quase um terço da população que, nos últimos dois anos, dependeram de algum benefício social. Temos 73 mil pessoas vivendo em extrema pobreza. Na medida em que uma unidade de saúde ou Creas identifica caso que necessita de assistência, dá-se encaminhamento dos serviços públicos ofertados, dentro do que o poder público pode oferecer”.
O coordenador administrativo do curso de Medicina da Unoeste, Dr. Geraldo Alécio aproveitou para provocar os participantes sobre as divisões sociais que existem em Guarujá, que castigam a infância e acentuam a pobreza e a violência na cidade. “Há um movimento aqui em que os ricos não querem os pobres nas praias, por exemplo. Por outro lado, em seus bairros, as crianças passam por uma série de violências. Na pandemia, quando chegávamos em algumas casas, vimos famílias comendo papelão. Quando aos 12 anos, alguém dá um revólver para essa criança, aí sim, ela vai à praia. Isso não pode ser normal”.
Entre os principais pontos abordados pelo juiz Leonardo Grecco, a existência e o trabalho da Fundação Casa foram destaques. “Às vezes, o que eu tenho que considerar é que, se eu não mando uma criança para Fundação Casa, ela vai ser morta. A internação compulsória está longe de ser a melhor do mundo, mas eu preciso dela. Eu acho que precisamos pensar duas vezes antes de jogar pedra nessas instituições”.
O médico psiquiatra e docente da Unoeste, Dr. Rondinelli Salvador, lembrou a importância do fim dos manicômios e o advento dos Centros de Atenção Psicossocial. “Não é difícil reconhecer uma criança que está em situação de violação de direitos. Há alguns sinais, simples, reconhecidos apenas em conversar e criar um ambiente de carinho, criar uma relação de vínculo. Todo mundo tem um caso de criança que contou para uma pessoa de confiança uma situação de abuso. Conversar é a principal tecnologia que existe”.