O alicerce está comprometido
Há uma ausência silenciosa que avança pelo país e cujos efeitos só se tornarão visíveis quando o problema já estiver instalado: a falta de engenheiros civis no mercado de trabalho. Em meio a tantas transformações e avanços tecnológicos, poucos percebem o quanto essa lacuna compromete o nosso futuro. O número de profissionais formados está longe de atender às demandas de um país que ainda convive com estradas precárias, saneamento básico insuficiente e cidades que crescem sem planejamento.
Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), até dezembro de 2024, havia cerca de 12 mil obras públicas paralisadas no Brasil — mais da metade das contratadas com recursos federais. A maior parte delas são relacionadas às áreas de saúde e educação, como Unidades Básicas de Saúde (UBS) e escolas. O motivo não é apenas a burocracia: faltam engenheiros, gestores e técnicos qualificados para tirar os projetos do papel e dar forma às necessidades urgentes da população.
Essa realidade é reflexo de muitos fatores, como a desvalorização da profissão, o desconhecimento sobre sua importância e a falsa ideia de que engenharia se resume a cálculos, concreto e pranchetas. Por conta dessa imagem, estamos promovendo um projeto em conjunto às escolas da região chamado “Engenharia Civil e a Física nas Estruturas”. O professor responsável pelo projeto, engenheiro civil Aparecido Marinho, busca estabelecer esse contato dos estudantes de ensino médio com a importância da área.
A ideia é mostrar que a engenharia civil está diretamente ligada à qualidade de vida das pessoas. Nós vemos que ela é que garante a fluidez urbana, promove a sensação de segurança e contribui para a liberdade de ir e vir com dignidade. Com ela, construímos escolas que formam cidadãos e pontes que conectam realidades, exploramos com responsabilidade os recursos que sustentam a vida e moldamos cidades mais humanas e acessíveis.
Formar bons engenheiros exige muito mais do que transmitir fórmulas prontas. É preciso infraestrutura adequada, experiências práticas e, sobretudo, professores que inspirem. Entre meus colegas, entendemos que "viver engenharia" é essencial para reacender o sentimento de pertencimento entre os estudantes. Trabalhamos com aulas em laboratório, visitas técnicas e projetos baseados em casos reais, buscando mostrar ao aluno o impacto de sua futura profissão. A missão é clara: fazer com que cada estudante entenda seu valor para a sociedade. Com isso, é indispensável que o futuro engenheiro esteja preparado para seu papel social, agindo com ética, compromisso e responsabilidade.
Se o país deseja crescer de forma sustentável e inteligente, precisa investir em quem projeta, executa e planeja esse crescimento. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima um déficit de 75 mil engenheiros no Brasil. Essa escassez não é apenas um dado estatístico — é um sinal de alerta. A resposta começa pelo reconhecimento da engenharia como uma profissão essencial, e pelo fortalecimento da formação de quem vai transformar o presente e construir o alicerce para o futuro.
Beatriz de Mello Massimino Rotta é doutoranda em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, mestre em Recursos Hídricos e Tecnologias Ambientais, engenheira civil, pedagoga. Professora e Coordenadora do Curso de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharias e Arquitetura e Urbanismo de Presidente Prudente - Unoeste