A IA não pode substituir bons professores!
Embora a Inteligência Artificial (IA) represente avanços notáveis na disseminação de informações e na automação de tarefas, ela não pode substituir bons professores nem práticas pedagógicas qualificadas. A construção do conhecimento humano vai além do simples acesso a dados: requer a mediação de indivíduos experientes, capazes de criar ambientes de aprendizagem que promovam reflexão, interação significativa e desenvolvimento conceitual. No início do século passado o pesquisador Jean Piaget, considerado um dos principais expoentes da concepção moderna de aprendizagem, já alertava para o fato de que aprender não se resume a realizar uma tarefa com sucesso, mas envolve compreender profundamente os conceitos relacionados. Esse processo de tomada de consciência e transformação de ações em operações mentais ocorre por meio de interações sociais e experiências contextualizadas, que só pode ser vivenciado por seres humanos. A IA é eficiente na entrega de conteúdos e na resolução de problemas, mas não é capaz de perceber nuances do desenvolvimento cognitivo dos estudantes, tampouco ajustar estratégias pedagógicas com base nas necessidades afetivas, sociais e intelectuais de cada indivíduo. Além disso, uma educação de excelência e para o presente (e o futuro) exige mais do que instrução: requer estímulos adequados, desafios e apoio para que o estudante desenvolva uma compreensão contextualizada. Professores habilidosos são capazes de criar situações de aprendizagem que favoreçam a passagem do simples “fazer” para o “compreender”, algo que a IA, com seus algoritmos predefinidos, não consegue realizar com a mesma sensibilidade. A tecnologia pode auxiliar, mas não substitui a presença humana que interpreta, acolhe e conduz o estudante ao pensamento crítico e à autonomia intelectual. Desde quando fiz o Mestrado em Educação, no início deste século, já defendia a ideia de que o desenvolvimento de projetos educacionais permite uma abordagem inovadora e reforça a necessidade da atuação docente. Projetos contextualizam o conhecimento, relacionam-no aos interesses do aprendiz e favorecem a integração entre diferentes saberes. Porém, a realização de um projeto não garante, por si só, a construção do conhecimento. É papel do professor provocar a reflexão, sistematizar os conceitos envolvidos e orientar o processo, transformando a experiência prática em aprendizagem. Trazendo para os dias atuais, afirmo com veemência que a IA não possui a capacidade de realizar essa mediação reflexiva nem de criar ambientes de aprendizagem personalizados, considerando aspectos éticos, culturais e emocionais. Ela carece da intencionalidade pedagógica, essencial para que o estudante não apenas alcance resultados, mas compreenda e aplique o que aprendeu em novos contextos. A interação humana permite identificar dificuldades, estimular potencialidades e promover o desenvolvimento integral, aspectos indispensáveis à educação. A civilização acumula saberes complexos que não podem ser reinventados a cada geração sem a mediação de educadores que organizem e orientem esse processo. Nessa lógica, o professor não é um mero transmissor de conteúdos, mas deve criar pontes entre o saber acumulado e a experiência do aprendiz, conduzindo-o da ação empírica à compreensão conceitual. Embora a IA seja mais um dos muitos recursos importantes (antes de termos IA tínhamos os recursos analógicos, depois a tecnologia digital), ela deve ser vista como apoio e não como substituta de bons professores e práticas pedagógicas efetivas. Que tenhamos sabedoria enquanto sociedade para defender uma educação humanizadora, mediada por profissionais qualificados e preparados para os desafios da sociedade contemporânea. E que também saibamos valorizar os profissionais de educação e estimular os jovens em busca de uma carreira na área. Não existe sociedade evoluída sem bons professores!
Danielle Santos é coordenadora dos cursos de Pedagogia presencial e EaD e docente do Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) da Unoeste.