Estudo orienta percepção docente à violência contra crianças

Os dados da violência contra a criança são alarmantes. Na consolidação anual no levantamento mais recente, o Disque 100 – serviço gratuito do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania – revela que em 2023 das 430 mil denúncias, 228 foram referentes a crianças e adolescentes, o que representa 53,14%. Conforme o Panorama da Violência Letal (morte) e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil, vinculado ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 51% dos casos de violência sexual em 2020 foram praticados contra crianças de até 5 anos.

Tese de doutorado em educação levada à defesa pública durante a manhã desta sexta-feira (5) aborda essa importante temática pelo viés de orientar a percepção docente à violência contra crianças, através de intervenção junto a professores do primeiro ciclo do ensino fundamental (até o 5º ano), no sentido de formação continuada e com o objetivo de auxiliar na prevenção, identificação e encaminhamento de casos detectados tanto no ambiente escolar quanto fora dele. O estudo foi desenvolvido pelo médico pediatra Murilo Sabbag Moretti.

Qualidade da pesquisa 

Com a orientação da professora doutora Carmen Lúcia Dias, do Programa de Pós-graduação em Educação da Unoeste, a proposta de intervenção formativa proporcionada pela pesquisa foi aplicada na Rede Municipal de Ensino, vinculada à Secretaria Municipal de Educação (Seduc). Participaram 23 professoras articuladoras do Cidadescola (programa de tempo integral) de diferentes escolas e 15 professoras orientadoras pedagógicos das mesmas escolas. Compreendendo a pesquisa e a tese, o estudo recebeu elogios das quatro avaliadoras.

Dentre os aspectos elogiados estiveram a qualidade do trabalho, a preocupação do profissional da saúde com a educação, a elaboração de programa de formação continuada de professores visando a contribuição para romper os ciclos de violência e a criação do Ambulatório de Atendimento às Crianças Vítimas de Violência no Hospital Regional (HR) Dr. Domingos Leonardo Cerávolo, atendendo convite da coordenadora do Departamento de Pediatria, Dra. Elza Akiko Matsumeda Utino. Inicialmente, são atendidas pacientes em tratamento no hospital e a intenção é abrir para a rede.

Presencial e on-line

A tese “Violência contra crianças e a formação continuada de professores do ensino fundamental I” foi levada à defesa presencial em sala da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PRPPG) da Unoeste, pela qual responde o Dr. Adilson Eduardo Guelfi, com a avaliação on-line da Dra. Camélia Santina Murgo, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Educação da Unoeste; Dra. Eliza Tomoe Morya Schulünzen, do mesmo programa; Dra. Juliana Aparecida Matias Zechi, do Instituto Federal de São Paulo; e Dra. Rita Melissa Lepre, da Unesp.

Foto: Homéro Ferreira

Esteve presente presencialmente a professora Selma Alves de Freitas que foi educadora de saúde pública da Seduc e que contribuiu com a tese de Murilo de quem é colega no corpo docente da Faculdade de Medicina de Presidente Prudente (Famepp) e na coordenação de pesquisa do Departamento de Pediatria do HR, juntos com a médica pediatra Gabriela Reigota Blanco. As intervenções da pesquisa com as articuladoras e orientadoras tiveram aplicação de questionários antes, como avaliação diagnóstica, e depois para avaliar os resultados alcançados.

Bons resultados 

A intervenção ocorreu com dez sessões, a cada dez dias no período de agosto a novembro de 2022, com o seguinte conteúdo programático: 1- A construção histórica e social da infância e da adolescência; 2- A violência contra crianças, 3- Violência física; 4- Violência sexual: abuso e exploração; 5-Violência psicológica; 6- Negligência e Abandono; 7- O desenvolvimento de autonomia moral; 8- Violência escolar e as competências sócioemocionais, 9- O papel da escola e do profissional da educação frente aos casos de violência; e 10- Condutas autoprotetivas.

Dentre os resultados encontrados foi possível detectar que professores da Rede Municipal de Ensino já possuíam bom conhecimento sobre o tema; mas que os professores em geral ainda se apoiam no senso comum, dificultando a alteração de conceitos e concepções pré-existentes. Outros dados indicam que a intervenção foi eficaz; que a temática abordada teve relevância; com as sessões vistas pelos participantes como dinâmica e com elogios à condução do moderador; e que houve melhoria da percepção e identificação dos casos de violência.

Produção de e-book 

Também foi possível fazer reconhecer outras formas de violência que não a física; a importância da denúncia e encaminhamento à rede de proteção; e qual o papel da escola e dos profissionais da educação. A tese apresentou dados tão importantes que houve a sugestão da produção de e-book com orientações como as que foram apresentadas na intervenção, levando informações de interesse nacional e até internacional, considerando a possibilidade de tradução na língua inglesa. As avaliadoras disseram que gostariam que os dados fossem apresentados em programas nos quais atuam.

Com elogios ao orientando e orientadora, a tese foi aprovada para que Murilo receba o título de Doutor em Educação. Durante a avaliação foram feitos apontamentos voltados aos ajustes para produção e aplicação de artigo científico; como fruto da tese bem estruturada, sustentada na formação de professores e percurso profissional; profissionais da saúde e da educação; estudos semelhantes e suas conclusões (oriundos da literatura científica); justificativa; necessidades de novas propostas de intervenção; subsídios teóricos; ações realizadas e resultados.