Veneno de cobra é capaz de estimular neurotransmissão motora
Relevância do estudo desenvolvido na Unoeste resulta em publicação de artigo em revista médica alemã de alto impacto científico

Estudo realizado no Centro de Pesquisa em Toxinologia da Unoeste e parceiros revelou a existência de dois peptídeos (biomoléculas) biologicamente ativos no veneno da serpente Jararaca-verde, capazes de estimular a neurotransmissão motora.
Os resultados obtidos revelaram nova classe de moléculas, na cobra amazônica Bothrops bilineatus (nome científico), que podem espelhar o desenvolvimento de novas drogas para tratar distúrbios neurológicos e neuromusculares.
O trabalho foi realizado pela médica cirurgiã geral e emergencista Fernanda Yumi Giglio Morimoto Couceiro, com a orientação e supervisão do professor pesquisador Dr. Rafael Stuani Floriano, atualmente fazendo pós-doutorado na Escócia.
Parte da pesquisa teve a parceria da Universidade de Strathclyde, no Laboratório de Neurociências, com o Dr. Robert Drummond. O Dr. Rafael lá está, em Glasgow, com o apoio da Unoeste e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A dissertação de defesa pública do mestrado em Ciências da Saúde foi realizada em março do ano passado e artigo científico dela extraído agora é publicado na revista médica alemã Archives of Toxicology (Arquivos de Toxicologia).
Periódico científico com fator de impacto 6.9, sendo um dos principais veículos de publicação científica no campo da toxicologia mundial e que oferece os últimos avanços descobertos nessa área.
Expressiva contribuição
“Os resultados desta pesquisa certamente contribuirão para melhorar o entendimento sobre a oferta de moléculas em venenos animais capazes de produzir respostas farmacológicas de interesse ao tratamento de doenças neurológicas”, diz o Dr. Rafael.
Além da parceria escocesa, a pesquisa contou com o envolvimento de pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp), Instituto Butantan e Instituto Clodomiro Picado, de San José, na Costa Rica.
A médica, autora da dissertação, trabalha na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do jardim Guanabara, Santa Casa de Presidente Prudente, Hospital Unimed e professora do internato da Faculdade de Medicina da Unoeste.
“O mestrado foi um período de muito aprendizado, desafios e crescimento pessoal e acadêmico”, diz Fernanda – carioca, casada e mãe de duas filhas – e cita a importância da orientação do Dr. Rafael Stuani e das parcerias interinstitucionais.
Seu ensino médio foi em São Paulo (capital), no Colégio Augusto Laranja, pois seu pai havia sido transferido por causa do trabalho. Mas, assim que terminou o colégio retornou para o Rio de Janeiro.
Como sempre se interessou pela área da saúde, quando era mais nova pensou em fazer odontologia. Na adolescência fez uso de aparelho ortodôntico fixo e se cansou de ir ao dentista todos os meses, de tal forma que focou na medicina.
Perfil da autora do trabalho
Fez faculdade de medicina na Universidade Estácio de Sá (Unesa) e se formou em dezembro de 2004 e durante os estudos na graduação sempre entendeu que iria seguir a área cirúrgica.
Fez especialização em cirurgia geral no Hospital Naval Marcilio Dias, onde foi 1° tenente reserva militar de segunda classe (RM2), médica militar temporária da Marinha do Brasil, no período de 2009 a 2014, na clínica de Cirurgia Geral.
Após esse período, acabou trocando a cirurgia geral pela urgência e emergência para ter um horário mais estruturado, como início e fim bem definido, por causa das filhas pequenas e queria poder participar das atividades com elas como balé, inglês e natação.
“Em 2018, eu e minha família decidimos sair do a Rio de Janeiro em busca de qualidade de vida, e tendo o Brasil inteiro de possibilidades, escolhemos Presidente Prudente como nosso novo lar. Foi a melhor decisão de nossas vidas”, afirma Fernanda.
“A vida aqui foi tão transformadora que o restante da nossa família veio atrás da gente e hoje a minha mãe, o meu pai e sua esposa, a minha avó de 100 anos e a minha sogra moram aqui em Presidente Prudente”, conta
Em Prudente, foi a 1ª diretora da UPA Zona Norte, de 2018 a 2019. Reconhecimento que recebi dos colegas médicos que levaram o meu nome como indicação para a Secretaria Municipal de Saúde.
Relação com a Unoeste
“Durante os meus plantões na UPA Ana Jacinta em 2019, haviam alunos do internato de Medicina da Unoste e eu sempre coloquei eles para examinarem os pacientes e discutia os casos com eles”, cita.
“Com isso os alunos acabaram levando o meu nome para a direção do internato e fui convidada a ser professora dessa área, algo que eu nunca havia pensando mas que foi muito gratificante para mim”, revela.
Ao abraçar essa nova fase de sua minha vida, Fernanda buscou o mestrado como aprimoramento para a docência. Foi recebida pelo Dr. Rafael e durante o mestrado desenvolveram o estudo sobre o veneno da Bothrops bilineatus.
“Veneno causador de neurotoxicidade atípica em preparações nervo-músculo de mamíferos, caracterizada por uma facilitação neuromuscular inicial seguida de bloqueio irreversível”, explica.
“Este é um comportamento incomum e intrigante, pois a maioria das neurotoxinas leva diretamente ao bloqueio sináptico”, pontua par dizer que essa é a 1ª identificação de tripeptídeos bioativos com efeitos pré-sinápticos em veneno de uma serpente.
“Avanço relevante na toxinologia. Os tripeptídeos descobertos podem servir como ferramentas para o estudo da fisiologia sináptica e como modelos para o desenvolvimento de novos agentes neuroativos, com potencial terapêutico”, conta.
Serviço
Leia o artigo completo “Modulação eletrofisiológica da neurotransmissão colinérgica por peptídeos biologicamente ativos do veneno de Bothrops bilineatus (Viperidae: Crotalinae)”, no site Springer Nature.
Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste