Falta de unidade dificulta responsabilidade ambiental plena
Criação da racionalidade promove a fragmentação e o ser humano já não consegue mais ver a totalidade



Ao longo de séculos o domínio exclusivo do saber pertencia à fé religiosa. A ruptura veio com a modernidade, quando a ciência ganhou autonomia. Deixou de precisar da legitimidade da devoção para falar da natureza. Criou-se a racionalidade fragmentada. Perdeu-se a base de unidade que permitia ler a totalidade. O ver em parte levou o ser humano a não conseguir mais ver o total. A falta de unidade promove a fragmentação da própria realidade e dificulta a reponsabilidade ambiental plena.
Esta é a síntese da conferência feita pelo doutor Clodomiro José Bannwart Júnior nas aberturas do 10º Encontro Anual de Extensão (Enaext) e dos fóruns Regional do Meio Ambiente, Humanização do SUS e Saúde do Trabalhador em Educação na Saúde. Pesquisador junto ao Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), o conferencista traçou um panorama histórico interessante e esclarecedor avaliado pela mediadora doutora Alba Regina de Azevedo Arana como o entendimento da raiz de algumas fragilidades da ciência.
“A modernidade, na medida em que rompe com as estruturas medievais de pensamento, e, na filosofia, substitui o paradigma da essência pelo paradigma do sujeito (consciência), reposiciona o homem como centro absoluto da validação do conhecimento e de doação de sentidos às coisas. O homem passa a ser o sujeito do conhecimento e a natureza torna-se o objeto passível de ser manipulada e conhecida. O mundo que começava a se secularizar, aprofundando cada vez mais a visão antropocêntrica, deixou de lado a concepção contemplativa que a religião impunha à natureza e passou a se ocupar da decifração dos códigos matemáticos inscritos na realidade natural”, disse Bannwart Júnior.
“Na verdade, o homem, sem Deus, passava a se preocupar, de forma cada vez mais intensa, com os fenômenos naturais, com as suas manifestações que causavam medo e insegurança. A intensificação do uso da matemática e da experimentação visava assegurar condições para o descobrimento do funcionamento das leis causais da natureza e apaziguar o medo que a natureza, em momentos revoltosos de tempestades, furacões e epidemias imputavam à ignorância do homem. Assim, a verdade deixou de ser pressuposto da revelação divina e passou a ser explorada, cada vez mais, pelo caráter experimental, matemático e, sobretudo, técnico da ciência moderna”, explicou o conferencista.
“Desse modo, o conhecimento científico e a apropriação da técnica por meio do positivismo suprimiram a aspiração ao conhecimento teórico do mundo, em benefício, quase que exclusivo, de sua utilização técnica e instrumental. Tal fenômeno gerou dois rudimentos caros ao desdobramento secularizado da modernidade, sobretudo, no início do século 21: a fragmentação da própria modernidade e a perda do lastro de sustentabilidade”, afirmou ao fazer a abordagem sobre os dois aspectos da conferência, que são os da responsabilidade social e sustentabilidade, relacionados à extensão universitária.
A conferência de Bannwart Júnior foi precedida pelo ato oficial das aberturas do Enaext e dos três fóruns, em pronunciamento da pró-reitora de Extensão e Ação Comunitária, doutora Angelita Ibanhes de Almeida Oliveira Lima, com o cerimonial conduzido pelo assessor de Relações Interinstitucionais, doutor Antonio Fluminham Júnior e com a logística proporcionada pela assessora de Eventos Acadêmicos da Proext, Juliene Maldonado Orosco. Os eventos integrantes do Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, o Enepe 2012, contou ainda com as presenças dos pró-reitores Acadêmico, José Eduardo Creste, e de Pesquisa e Pós-graduação, Zizi Trevizan, e a coordenadora acadêmica da Unoeste, Aparecida Darcy Alessi Delfim.
Na sequência foi instalado debate com as participações de Alba Arana e do juiz federal radicado em Londrina (PR), doutor Rogério Gangussu Dantas Cachichi. Ainda pela manhã houve uma mesa redonda e à tarde outra sobre meio ambiente, no auditório Azaleia, no campus II da Unoeste.
Debate e mesas redondas – Participaram do debate Bannwart Júnior, Dantas Cachichi e Alba Arana. O juiz discorreu sobre o amparo constitucional ao meio ambiente, que prega a educação ambiental em todos os níveis. Defendeu a construção de uma cultura da consciência e o consequente fortalecimento da cidadania. O debate passou por assuntos como o de que a universidade tem a missão de produzir gente e as empresas mercadorias, sendo que algumas instituições classificadas como de ensino superior produzem mercadoria, porque produzir gente é um processo mais demorado e que implica em promover valores.
Outro assunto de significativa importância recaiu sobre o mundo capitalista, no qual a classificação das 100 (cem) maiores riquezas do mundo, 57 são empresas e o restante são países. Fato que representa inversão da lógica, em que o poder econômico das empresas fala mais alto que o poder soberano e democrático dos estados. A primeira de duas mesas redondas sobre o meio ambiente apresentou idêntico enfoque, com o promotor do Meio Ambiente em Presidente Prudente, Marcos Akira Mizusaki, que apresentou mazelas do poder público e ações da iniciativa privada que causam danos ambientais, como a expansão urbana desordenada.
A mesa redonda da manhã teve como tema “Governança ambiental e saúde pública: em busca de totalidade”, com as falas da coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unoeste, doutora Sibila Corral de Area Leão Honda, o representante da Previdência Social e professor da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Rogério Albuquerque de Oliveira, a pesquisadora da Esalq/USP, doutora Marly Pereira, o engenheiro agrônomo da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) Roberto Shirazaki, o coordenador de Ações Extensivas de Saúde da Proext, doutor Décio Gomes de Oliveira e a professora Patrícia Reiners Carvalho, com a moderação da doutora Maria Helena Pereira. Sobre a saúde, para Oliveira o debate honesto seria o de prevenir e promover precaução à saúde do trabalhador, mas costumeiramente é debatida proteção.
Na mesa redonda com o tema “Agroecologia e fitoterapia: a dimensão sistêmica da vida” falaram o doutor Francisco Luiz Araújo Câmara, da Unesp em Botucatu, a doutora Sandra Aparecida Padilha Magalhães Fraga, da Redefito - Farmanguinhos/Fiocrus, e a diretora geral do Laboratório Veterinário Homeopático Fauna & Flora Arenales, a médica veterinária Maria do Carmo Arenales. Os assuntos foram sobre alimentação saudável, incluindo a orgânica, a medicina alternativa, com plantas medicinais e fitoterápicos e a homeopatia animal que incluir a produção de gado saudável, tanto a carne quanto o leite.
Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste