Agente biológico que controla praga na soja resiste à chuva
Mesmo diante de diferentes intensidades de precipitação pluviométrica o Baculovírus mantém a eficiência



Investigação científica desenvolvida pelo engenheiro agrônomo extensionista do Instituto Paranaense de Pesquisa e Extensão (Emater) Valter Martins Pessoa mostra que o emprego do Baculovírus tem resistência à chuva. A precipitação pluviométrica de até 30 milímetros por hora não interfere na eficácia do agente biológico aplicado para o controle da lagarta-da-soja. As folhas permanecem contaminadas com o vírus e esse inseto, o mais comum dessa lavoura no Brasil, perde a capacidade de movimentação, deixa de comer e morre.
O tipo de aplicação com maior impacto é a macerada, com eficácia superior a 90%. Na liofilizada, que compreende o processo de desidratação, o efeito é de 75% para menos. Os experimentos foram feitos no Laboratório de Entomologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). A pesquisa resultou na dissertação “Precipitações pluviométricas na eficiência do Baculovírus Anticarsia gemmatalis NPV na cultura da soja”, com a defesa pública realizada nesta terça-feira (27) junto ao Programa de Mestrado em Agronomia, vinculado à Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da Unoeste.
O estudo buscou responder os questionamentos se as chuvas podem prejudicar a ação do Baculovírus no controle da lagarta-da-soja, se chover logo após a aplicação é necessário fazer a reaplicação e se existe diferença no tipo de aplicação. Em síntese, as duas primeiras respostas são não e a terceira é sim. Habituado à extensão, Pessoa diz que agora tem segurança para recomendar a aplicação do agente biológico, mesmo que o tempo esteja sujeito à chuva, com a instrução do tipo macerada.
Independente da previsão climática, existem vantagens em controlar a praga biologicamente em relação à utilização de inseticidas. A comparação é de que com a utilização do vírus patogênico em 1 milhão de hectares, deixa-se de aplicar 1,6 milhão de litros de inseticida químico. As vantagens passam pela ausência de toxidade para quem aplica, atende à pressão da sociedade por alimentos isentos de agrotóxicos, alcança as boas práticas e manejos, preocupa-se com um padrão ambiental, possibilita a certificação exigida pelos países importadores e contribui com a crescente valorização do mercado de orgânicos.
Dados apresentados na pesquisa apontam o Brasil como o segundo maior produtor de soja do mundo, responsável por 28% de toda produção. Daí, a defesa pela utilização de agente biológico e a importância em se saber sobre a resistência à chuva. É que a maioria dos agrotóxicos aplicados sobre área folhear é lavado, sendo que pouco tempo de chuva, mesmo de menor intensidade, tem poder suficiente para reduzir expressivamente a eficácia. Pessoa desenvolveu boa parte do trabalho com a orientação do cientista brasileiro de prestígio internacional Flávio Moscardi, morto em junho deste ano de parada cardiorrespiratória após hemorragia digestiva, aos 63 anos de idade, em Londrina (PR).
Numa de suas várias publicações, Moscardi disse o seguinte sobre o Baculovírus: “Quando as folhas de soja contaminadas com o micróbio são comidas pela lagarta, o vírus se multiplica no seu corpo e ela vai perdendo, aos poucos, sua capacidade de movimentação e de comer as folhas. Após o quarto dia da contaminação, já se observa uma descoloração no corpo das lagartas doentes, sendo que, próximo à morte, estas já apresentam o corpo bem amarelado, não se alimentam mais e sobem para as partes mais altas das plantas, onde morrem dependuradas. As lagartas morrem de 7 a 9 dias após a contaminação e, depois de alguns dias, seus corpos apodrecem, soltando mais vírus sobre a soja, que serve para matar outras lagartas que vão aparecendo na lavoura”.
Pessoa reproduziu em laboratório todas as etapas de seu experimento, inclusive a chuva artificial. Aplicou as orientações de Moscardi, com a coorientação do doutor Adeney de Freitas Bueno, da Embrapa Soja, de Londrina, e na Emater contou com Rubens Ernesto Niederheut-mann. Na Unoeste, passou a ser orientado pela doutora Fabiane Cunha e nos agradecimentos, ao final da apresentação da dissertação, também citou os doutores Fábio Fernandes de Araújo (coordenador do Programa de Pós-Graduação em Agronomia) e Vânia Maria Ramos, que integrou a banca de avaliação.
Completou a banca o doutor Pedro Manuel Oliveira Janeiro Neves, da UEL. Também constaram dos agradecimentos a pesquisadora Talita Morato Alexandre e a equipe de funcionários do laboratório utilizado nas experimentações. Pessoa foi aprovado para receber o título de mestre, com recomendações para alguns ajustes na dissertação, no sentido de enriquecer a produção científica e conseguir publicar num periódico de melhor classificação. Valter Martins Pessoa é engenheiro agrônomo pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), em Dourados. Trabalha para a Emater em Paranavaí, onde a mandioca é cultura predominante.
Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste