Pesquisa mostra viabilidade para cultivo de cana em leiras
Alternativa supre tradicional plantio em sulcos, com vantagens de corte mais profundo e com menos impureza



A troca da colheita manual pela mecanizada na lavoura da cana-de-açúcar apresenta vantagens e desvantagens. Fato positivo é a redução do custo em 30%, embora sejam altos os investimentos em maquinários. No mais, existem pelo menos dois inconvenientes que precisam ser eliminados: o alto risco de levar impurezas às indústrias e o desperdício da parte da cana com maior sacarose, que é a mais próxima às raízes. Pesquisa realizada na Unoeste apresenta possível solução para evitar os elementos impuros e o aproveitamento integral da matéria-prima na indústria sucroalcooleira.
A possibilidade de solução está no sistema de plantio. O tradicional é feito em sulcos, com o plantio a 30 ou 40 centímetros de profundidade. Uma prática associada à retenção de umidade. Porém, no momento da colheita é preciso realizar a operação quebra-lombo, utilizando disco de corte para levantar as raízes. Ainda assim, não é possível o corte baixo, devido aos riscos das impurezas. A alternativa para o produtor brasileiro surge com o plantio em leiras, também chamado de canteirização. As leiras são feitas com 30 centímetros de altura em relação à superfície da terra, semelhante aos camalhões para o cultivo de batata doce.
O sistema de leiras praticado na Austrália e na África do Sul, predominantemente em regiões de clima temperado, tem no Brasil o problema do clima tropical, que interfere na retenção da umidade. Uma solução viável está na combinação de aplicação de polímero hidrogel e utilização do palhiço, que é a mistura da palha com ponteiros secos ou verdes da própria cana. Matéria orgânica encontrada em abundância, já que apenas 5% podem ser utilizadas na biomassa para produção de energia elétrica. O engenheiro agrônomo Elvis Lima Deltrejo Júnior desenvolveu experimentos que apontam para a viabilidade do cultivo em leiras, orientado pelo doutor Tadeu Alcides Marques.
O resultado da pesquisa foi apresentado nesta segunda-feira (3) durante a banca de defesa pública da dissertação do mestrado em Agronomia, em programa disponibilizado pela Unoeste, por meio da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação. Além do doutor Gustavo Maia Souza, que pertence à própria instituição, integrou a banca como convidado especial o doutor Gil Eduardo Serra, da Unicamp. Ele elogiou o trabalho pioneiro intitulado “Palhiço, polímero hidrogel e profundidade de plantio nos parâmetros de biometria, tecnologia, energia e produtividade de cana-de-açúcar”.
Com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Elvis Júnior desenvolveu os experimentos nos últimos dois anos no Centro de Estudos Avançados em Bioenergia e Tecnologia Sucroalcooleira (Centec) da Unoeste, com o cultivo no Campo Experimental Agrícola instalado no campus II e cooperação da Usina Alvorada do Oeste, em Santo Anastácio (SP). O plantio foi feito numa área de 1,2 mil metros quadrados, com 32 parcelas (experimentos) nos dois sistemas de plantio, em sulcos e leiras. Foram aplicadas doses diferentes de polímeros hidrogel e mais a cobertura vegetal. O resultado mais satisfatório foi o da dosagem de 53 quilos de hidrogel por hectare, associado à palhiça de cinco a dez toneladas na mesma área.
Como parte das conclusões, Elvis Júnior citou que “o uso de polímeros nas maiores doses apresentaram probabilidade de rendas líquidas maiores e lucratividade. A maior possibilidade de rendas líquidas possíveis está associada a menores preços de polímero com preços maiores de ATR [Açúcar Total Recuperável]”. Para o doutor Marques a pesquisa ora apresentada é apenas a ponta do iceberg, com a oferta de informações preliminares sobre tais variáveis, de tal forma que os resultados são apresentados condicionalmente, com as utilizações de palavras como probabilidade e possibilidade.
Elvis Júnior é graduado pela Unoeste na turma de 2009. Imediatamente ingressou no mestrado e ao concluir os créditos deu o pontapé inicial em sua carreira profissional, ingressando na Syngenta Brasil, empresa de produtos agroquímicos, em Dourados (MS). “Se não tivesse no mestrado, não teria passado. Eu era o único sem experiência profissional. O que contou foi o mestrado”, diz o agora mestre em Agronomia, após obtenção de aprovação pela banca avaliadora que debateu o tema durante a manhã, inclusive pela importância do setor sucroalcooleiro para o agronegócio brasileiro.
A safra 2012/2013 do Brasil tem produção estimada em 596,6 milhões de toneladas. Deve superar em 6,5% a safra passada. São 36 milhões de toneladas a mais que a anterior. São Paulo é o maior produtor de cana-de-açúcar, com 323,1 milhões de toneladas. Detém 52% de toda área cultivada no Brasil. Na sequência aparecem Minas Gerais, Goiás e Paraná, sendo este último Estado o de origem do jovem pesquisador que é de Terra Rica. A pesquisa desenvolvida na Unoeste contempla o âmbito regional de Presidente Prudente, onde o setor sucroalcooleiro encontra-se em franca expansão.
Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste