CAMPUS:
0800 771 5533
Área do Egresso Aprender Unoeste
Você está em: Notícias

Pesquisa sobre lixo urbano entra na fase de visitas técnicas

Levantamentos de dados são feitos em aterros em Presidente Prudente e região, tendo iniciado em Pirapozinho


email facebook twitter whatsapp Linkedin

Foto: Thadeu Witkovski Pesquisa sobre lixo urbano entra na fase de visitas técnicas
Vista geral do lixão próximo da área urbana
Foto: Thadeu Witkovski Pesquisa sobre lixo urbano entra na fase de visitas técnicas
Lucas Osco, Edilene, Waldman e Ferreira


O sociólogo, ambientalista e ativista social brasileiro, Maurício Waldman, desenvolve pesquisa sobre o lixo urbano em Presidente Prudente e região, na condição de pesquisador pelo Programa Nacional de Pós-doutorado (PNPD), com bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O trabalho científico é realizado junto ao Programa de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Unoeste.  Iniciado em fevereiro deste ano, o trabalho está na fase de visitas técnicas aos aterros, popularmente conhecidos como lixão, tendo iniciado em Pirapozinho. Lá esteve acompanhado do pesquisador do Neageo Lucas Osco, da professora Edilene Takenaka e do ex-secretário municipal do Meio Ambiente, Marcos Ferreira. Numa entrevista ao Portal Unoeste, o professor doutor Waldman fala sobre o assunto:
 
Como está o levantamento de dados de sua pesquisa?
Waldman: O momento agora reporta a visitas técnicas aos aterros da região do oeste paulista que, com exceção de Presidente Venceslau – onde, em tese, temos um aterro sanitário –, configuram lixões e bota-foras. A primeira leva de dados bibliográficos, correspondente ao levantamento de literatura com recorte local e regional, trabalho ao qual agreguei fontes mais amplas, relacionadas à questão dos resíduos sólidos nos âmbitos estadual, nacional e internacional, já foi realizada. Isso implicou em adquirir livros, coletar materiais que seguiram para serem xerografados e encadernados, vídeos checados e arquivados e, é óbvio, no fichamento de papers com caráter estratégico. Em termos organizacionais isso se refletiu na catalogação dos materiais amealhados em razão de tipologias de interesse e importância documental para a investigação.
 
Já conhecia a situação da região do oeste paulista?
Waldman: Conheço o lixão de Presidente Prudente desde os anos 1990, praticamente nos primeiros momentos em que este aterro passou a funcionar. Visitei o local com professores da Unesp que, na ocasião, convidaram-me para participar de um ciclo de palestras sobre resíduos sólidos. Posteriormente, nos anos 2000, retornei a este lixão, que é o maior da região. Agora estou indo em outras áreas de descarte indiscriminado para cartografar a situação. Neste sentido, Pirapozinho é o segundo espaço que visitei aqui na região. Contudo, ressalvo que esse é o 61º lixão que visito na minha carreira como pesquisador, inclusive alguns no exterior.
 
Os lixões são todos iguais ou existe diferença?
Waldman: No meu primeiro pós-doutorado, realizado em 2010 no Instituto de Geociências da Unicamp, um trabalho cujo foco era igualmente a questão dos resíduos sólidos, desdobrou-se numa conceituação em princípio óbvia, mas que continuamente requer convencimento. Qual seja: a de que precisamos discutir e compreender a configuração eminentemente específica dos refugos. Em síntese, a maioria das pessoas – inclusive os especialistas da área – advoga a existência de uma entidade denominada Lixo. Entendo que não é bem assim. Na realidade o que temos pela frente são Lixos. Isto é: flexão plural e não singular.
 
O que isso significa?
Waldman: Significa que ou passamos a compreender os detritos a partir da sua inserção na realidade local e regional, ou, então, não estaremos entendendo absolutamente nada. O lixo do oeste paulista apenas será alçado a uma taxonomia científica caso passemos a pautar sua especificidade, sua história e sua geografia. Tempo e Espaço. No mais, assimilar às duas variáveis às dimensões do cultural, econômico, antropológico e sociológico. Isso, sem esquecer as conexões com inferências mais amplas. Basicamente as de índole extrarregional.
 
No que este conceito se materializa, por exemplo, em Pirapozinho?
Waldman: Não existem dois lixões iguais neste mundo. Fiquei surpreso, por exemplo, em encontrar uma carcaça de tatu-bola em meio aos refugos, o que evidencia um perfil próprio de crime ambiental configurado entre os detritos da cidade. Outro detalhe são as carroças de tração animal, inexistentes na Grande São Paulo em função da proibição da circulação de animais nas vias públicas em todas as cidades da metrópole. Foi interessante constatar a grande quantidade de lixo digital em Pirapozinho, claro sinal da hegemonia da globalização. Mais ainda – dado este ainda empírico – saltou aos olhos a enorme proporção de lixo orgânico, inferência absolutamente importante para discutirmos uma política pública de gestão dos resíduos sólidos regionais. Conversei também com os trabalhadores do lixo e indaguei sobre o preço dos reciclados. Fácil constatar que a remuneração do material recuperado é menor do que nas áreas concentradoras de capital. Clara expressão das trocas desiguais que regem a economia brasileira como um todo, calçando uma abdução permanentemente voltada para encaminhar a renda do oeste paulista para os grandes centros urbanos.
 
O que no momento poderia ser proposto?
Waldman: Pensando-se que o lixo expressa inferências gerais e particulares, locais e nacionais, específicas e globais, o que se tem são antinomias que expressam o caráter multifacetado das sociedades, cujos reflexos são encontrados no Lixo. Assim sendo, entendo que o momento requer uma reflexão não somente administrativa, ambiental e/ou social a respeito dos refugos, mas igualmente, as firmadas nos princípios da Garbologia (Lixologia em português). Com isso estou me referindo ao brilhante trabalho de William Rathje, antropólogo dos EUA que fundou uma nova disciplina, a Garbologia. Rathje advertia constantemente para a necessidade de situarmos os resíduos no tempo e no espaço para que, assim, ficassem explícitos as matrizes geradoras dos refugos, tanto nas suas peculiaridades como, também, nas conexões mantidas com os dinamismos mais amplos.
 
Qual seria a sequência do trabalho?
Waldman: É importante consignar que um trabalho de pesquisa não pode ser uma iniciativa fechada em si mesma. Tenho participado de inúmeras atividades na Unoeste, contribuindo com minha participação em sala de aula junto aos alunos do mestrado em Meio Ambiente e desenvolvendo atividades específicas, tais como entrevistas, cursos de capacitação, palestras e conferências. Ademais, participei em eventos, dei minha contribuição em bancas e sigo perfazendo orientação formal e informal dos alunos do MMadre. Isso sem contar minha participação com a imprensa local, na forma de artigos publicados para o jornal O Imparcial de Presidente Prudente. Atividades que entendo indissociáveis da agenda de um pesquisador que busca compreender a realidade local e regional.

Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste

Alguma mensagem