Leishmaniose pode estar se espalhando da cidade para sítios
Constatação ocorre em pesquisa na região do Pontal do Paranapanema que concentra o maior número de assentamentos do estado
A leishmaniose visceral (LV) pode estar se espalhando das cidades para propriedades rurais, incluindo assentamentos da reforma agrária, em Teodoro Sampaio. Possivelmente esteja ocorrendo o mesmo em outros municípios do Pontal do Paranapanema que tem o maior número de assentamentos do estado: 117.
A constatação ocorre em estudo científico desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, apresentada em recente defesa pública de dissertação da médica infectologista Paola Andressa Xavier Mente.
A pesquisa que resultou na dissertação levou em consideração que a LV é uma zoonose (doença) que precisa de um reservatório vertebrado, no caso o cão doméstico, e de um vetor que é mosquito palha, tendo o ser humano como hospedeiro definitivo.
Conforme o orientador do estudo, o médico infectologista Dr. Luiz Euribel Prestes Carneiro, a leishmaniose visceral é uma doença grave e na ausência de diagnóstico e tratamento precoce pode resultar em morte do paciente.
Doença que ocupa o segundo lugar no mundo de doenças negligenciadas tropicais e na América do Sul o Brasil possui 96% dos casos. Em São Paulo, a região oeste é considerada endêmica e a doença avança nos municípios do Pontal do Paranapanema.
Escolha pela incidência de casos
O município de escolha do estudo recaiu em Teodoro Sampaio, por ser considerado a capital do Pontal e por sua grande vulnerabilidade e aumento da incidência de casos de LV em humanos (LVH) e em cães (LVC).
Município que passou a ser considerado prioritário para ações de vigilância e controle para LV. Diante da evolução da LVC e da LVH em Teodoro Sampaio, a pesquisa investigou se há um novo ciclo de transmissão, agora da área urbana para a área rural.
O estudo epidemiológico, descritivo seccional, buscou identificar possíveis fatores de risco presentes para propor medidas voltadas a melhorar o controle. Foram levantados dados de 2010 a 2024, obtidos em registros de importantes instituições.
Dados da Unidade de Vigilância em Zoonoses (UVZ) e Secretaria Municipal de Saúde de Teodoro Sampaio; e Instituto Adolfo Lutz (IAL), a partir do Sistema Nacional de Agravos e Notificações (Sinan); e Centros de Vigilância Epidemiológica.
Conforme a dissertação, todos os órgãos são públicos e os dados são disponíveis mediante solicitação. No espaço temporal escolhido para pesquisas, dentre 7.718 cães examinados, 2.376 testaram positivo para LVC.
Anos de maior incidência
Os anos de maior incidência foram de 2021 a 2023, com 1.078 casos positivos, representando 45,2% do período todo. O serviço de vigilância rural iniciado em 2022/23 detectou 40 cães positivos de 703: um índice de 5,7%.
Destes 40 cães, 11 eram de residentes em assentamentos, o que representa 27,5%. O primeiro caso de LVH ocorreu em 2018 e até 2025 foram 13 casos notificados, com maior incidência em 2022: cinco casos.
O trabalho concluiu que a persistência da transmissão canina na área urbana, associada à expansão do ciclo para regiões periurbanas e rurais, demonstra que o município atravessa um processo consistente de ruralização da doença.
O controle eficaz da LV exige uma abordagem multidisciplinar de Saúde Única, que é forma de enteder a saúde como um sistema que reúne pessoas, animais e o meio ambiente.
“Há que se ressaltar que semelhante ao que está acontecendo no município de Teodoro Sampaio possivelmente está acontecendo em grande parte dos municípios da região, especialmente naqueles com alta incidência de cães infectados”, pontua a autora.
Na produção da pesquisa para a dissertação “Evolução da leishmaniose visceral humana e canina na cidade de Teodoro Sampaio-SP sob a perspectiva de saúde única”, a médica Paola Xavier recebeu contribuições externas.
Mestre em Ciências da Saúde
As pesquisadoras colaboradoras foram a Dra. Lourdes Aparecida Zampieri D´Andrea, do Centro de Laboratório Regional Instituto Adolfo Lutz (IAL) de Presidente Prudente; e em iniciação científica Nathalia Akemi Camargo Koga.
Os pesquisadores colaboradores foram o biólogo Dr. André Gonçalves e o estatístico Dr. Edilson Ferreira Flores, professor na Faculdade de Ciências e Tecnologia, campus da Universidade Estadual Paulista (FCT/Unesp) em Presidente Prudente.
A banca avaliadora contou com o Dr. Vamilton Alvares Santarém, da Unoeste; e Dr. Mauricio Domingues Ferreira, médico imunologista do Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo (USP). Paola foi aprovada para receber o título e Mestre em Ciências da Saúde.
Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste