Simulação de catástrofe em aeroporto envolve 300 pessoas
Ação reproduziu acidente com avião e avaliou tempo-resposta e atendimentos da rede de urgência da cidade; alunos da Unoeste destacam aprendizado para futura profissão

Pessoas machucadas, fumaça, gritos, um avião na pista e movimentação de equipes de resgate. Este cenário foi montado para uma simulação de catástrofe, que envolveu mais de 100 alunos e, ao todo, 300 pessoas no Aeroporto Estadual Adhemar de Barros, em Presidente Prudente, por volta das 8h de domingo (24), como forma de treinamento prático de como agir em situações como esta.
Para que tudo desse certo, os estudantes começaram a chegar ao local por volta das 4h. Cada um tinha um papel: ao todo, 70 pessoas atuaram como vítimas que precisavam ser socorridas na pista, no avião e no gramado. Cada uma tinha um grau diferente de risco - por isso, a avaliação rápida das equipes e o atendimento preciso eram necessários. Outros 30 voluntários representaram os familiares de quem estava no avião – e para eles, também foi montado um sistema de acolhimento.
Para que tudo desse certo, foram vários parceiros: o evento foi organizado em uma parceria da Aeroportos Paulistas (ASP), responsável pela gestão do aeroporto, em conjunto com a Liga do Trauma e Cirurgia de Emergência Famepp – Unoeste, Liga Acadêmica de Cirurgia de Emergência e Medicina Intensiva, Liga Acadêmica de Cirurgia Experimental e São Francisco Resgate.
O simulado contou com o apoio do Corpo de Bombeiros, Polícia Federal, Polícia Militar, Polícia Rodoviária, Defesa Civil, Grupo de Resgate e Atendimento a Urgências (Grau), Serviço de Atendimento Móvel de Emergência (Same), Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob), Santa Casa, Hospital Regional de Presidente Prudente, UPA Ana Jacinta, Unimed, Cenemed, Cart, Departamento de Estradas de Rodagem (DER), NAV Brasil, Aeroclube, companhias aéreas e Secretaria Municipal de Saúde.
Sensação dos “feridos”
Quem olhasse as “vítimas” de fora, podia até imaginar que todos eram atores. Poucos minutos antes das 8h, foi dado o “start” e no mesmo instante, os sons mudaram no aeroporto. O pessoal se dedicou: com gritos pedindo socorro, pessoas circulando como se estivessem perdidas no meio da pista e até “desmaios”. Era quase impossível não sentir a sensação de urgência durante a simulação. Logo depois, vieram a fumaça e os caminhões da brigada de incêndio, que usaram jatos d'água para conter “as chamas”.
A estudante Maria Vitória Pichinim Da Silva, do 3º termo, ficou no meio do gramado para ser socorrida. “Fiquei sabendo da simulação pela Liga de Trauma e me interessei em ver como é essa realidade. Acordei bem cedo e acho que é uma experiência bem legal”, comenta.
Já Isadora Zuntini de Oliveira Lima, também do 3º termo, teve apoio familiar para atuar como voluntária nesta ação. “Minha mãe, que é médica [Silvia Elaine Zuntini Pinto, formada pela Unoeste], participou já de simulações como esta e me apoiou muito, É muito importante ver a atuação de médicos nesta situação. Eu quero participar disso também em outras frentes”, comenta a aluna, que estava com uma maquiagem que reproduzia um grande ferimento na região dos olhos.
O João Pedro Biral, do 6º termo, estava entre os pacientes de nível amarelo. No caso dele, era preciso ficar deitado até que alguém o transportasse até a área de atendimento. “Ajuda a ter uma noção do que os profissionais passam no dia a dia e também ter mais empatia pelo próximo”, que participou pela segunda vez da simulação.
“Diagnóstico das ações”
A professora da Unoeste e diretora técnica da Santa Casa, Helen Brambila, coordenou a Liga do Trauma. Ela destaca que o treinamento é importante para que os alunos tenham uma vivência de um atendimento que podem, futuramente, realizar. Isso também cria um senso de organização nos estudantes, já que ele foi todo organizado pelos discentes. Ela explica que a escolha do aeroporto foi para trazer uma experiência inédita.
“Já fizemos simulações de acidentes de ônibus, no shopping. Nós buscamos sempre locais diferentes, para fazer não só o treinamento dos alunos. Esse evento é tão grande que permite o treinamento da equipe de atendimento pré-hospitalar, a equipe intra-hospitalar e o pós. Inclusive, montamos uma equipe de pessoas para atendimento dos familiares, que não estão envolvidos diretamente no acidente, mas que sofrem danos psicológicos. Na Santa Casa, por exemplo, nós chamamos a equipe de assistência social para seguirmos todo o protocolo da instituição”, explica.
Nas mãos da professora, um guia com todos as características de cada vítima. A vítima 35, por exemplo, tinha um ferimento na testa com cerca de quatro centímetros, além de escoriações e hematomas, com diagnóstico de possível contusão cerebral. É tudo tão preciso que são descritas todas as reações e quadro clínico que a “vítima deve ter”: nesse exemplo, é destacado que ela está com saturação de 98%, com pressão 12 por 7 e que repete perguntas durante o atendimento.
Durante toda a atividade, a professora e equipes da organização faziam as marcações de parâmetros necessários sobre o atendimento feito pelas equipes. A análise se torna um relatório encaminhado a todos os órgãos envolvidos, para que avaliem as ações realizadas durante o simulado.
O coordenador da Aeroportos Paulista, João Paulo Correa Neves, destacou a operação integra, ainda, o ciclo de treinamentos previsto pelo Regulamento Brasileiro da Aviação Civil (RBAC 153), que exige a realização periódica de exercícios em aeroportos das classes II, III e IV, como forma de avaliar e aprimorar os Planos de Emergência em Aeródromo (PLEM).
“Mais que uma obrigação, o simulado serve para treinar tanto as equipes do aeroporto quanto as equipes da cidade, para saberem como proceder em uma situação real. Foram aproximadamente dois meses de organização, com cerca de 300 pessoas envolvidas. Por parte do aeroporto, tem todo um time de operação e de bombeiros, que são o primeiro combate neste tipo de acidente. Também atuamos com o Plano de Assistência às Famílias das Vítimas de Acidente, simulando esse atendimento dentro do terminal”, afirma.
Para a Liga do Trauma e Cirurgia de Emergência, a ação de vários meses de trabalho teve resultado positivo. “Tivemos bastantes acidentes de avião recentemente, por isso o aeroporto foi escolhido. Essa ação não é só importante para nós, futuros médicos, para vermos nosso papel e como devemos agir. Mas também para todas as instituições treinarem os protocolos. Isso é de muito valor para a gente”, comenta Maria Julia Elias, presidente da liga.
Além dos estudantes de Medicina, alunos e residentes do curso de Enfermagem da Unoeste participaram de forma ativa no serviço de atendimento às vítimas. Também ajudaram nos trabalhos de posicionamento de alunos e classificação das áreas de risco.
“A gente consegue olhar de perto a rede de urgência do município, como é o tempo-resposta, como as vítimas foram avaliadas, que horas foram encaminhadas para os hospitais. Além disso, os hospitais puderam avaliar seu atendimento: estrutura física, atendimento... Então, é oportunidade para todo mundo”, diz a professora, Ana Paula Brambilo, coordenadora do Programa de Residência Multiprofissional Urgência e Trauma.
Movimentação por todos os lados
Além das cenas no aeroporto, muita gente pôde ver a ação rápida das equipes de socorro pelas ruas de Presidente Prudente e pelas rodovias (se você ouviu sirenes pela manhã, provavelmente foi por conta do simulado!). Na Rodovia Assis Chateaubriand, teve até esquema especial de trânsito mobilizado pela Polícia Militar Rodoviária. Também houve apoio no trânsito das concessionárias que administram as estradas.
“Como a Defesa Civil faz parte das equipes que atuam em questões de desastres, é sempre participar deste tipo de simulado para preparar as equipes. É algo distante [de acontecer], mas com a possível expansão do aeroporto, é sempre bom participar deste tipo de simulação”, conta Luís Felipe Floriano, coordenador da Defesa Civil municipal.
O tenente do Corpo de Bombeiros, Lincoln Ribas, explica que o aprimoramento é fundamental para que as equipes atuem em diferentes tipos de cenário. “É muito importante para o treinamento das equipes, mas principalmente para a gente saber atuar de forma integrada com outros órgãos e agências. A avaliação do tempo resposta para chegar ao aeroporto, por exemplo, foi positiva”, comenta.
A ação acabou despertando a curiosidade de quem passava por perto e ficou sabendo do exercício simulado. “Minha filha gosta muito de bombeiro e avião, então trouxe ela para ver aqui no aeroporto. Achei muito interessante, e mostra que todo mundo que está atuando é bem profissional mesmo”, explica a auxiliar de serviços gerais, Ariane Batista de Oliveira.
Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste