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Ciência alienante impede produção do conhecer que transforma

Alienação ocorre quando a pesquisa ignora o conhecimento popular e não contempla as práticas de extensão


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Foto: João Paulo Barbosa Ciência alienante impede produção do conhecer que transforma
Dra. Sônia: extensão do conhecimento que transforma
Foto: João Paulo Barbosa Ciência alienante impede produção do conhecer que transforma
Público no auditório Azaleia, na abertura do Enaext 2015
Foto: João Paulo Barbosa Ciência alienante impede produção do conhecer que transforma
Dra. Sônia entre os pró-reitores doutores Adilson Eduardo Guelfi e José Eduardo Creste

A extensão só tem sentido a partir de uma síntese dialética entre os conhecimentos científico e popular, aplicados na resolução de problemas específicos de uma realidade. Com esse pensamento, a engenheira agrônoma Dra. Sônia Maria Pessoa Pereira Bergamasco criticou a ciência alienante, aquela que resulta da pesquisa dissociada do conhecer popular e distante das práticas de extensão, inviabilizando a produção do conhecimento que transforma. Na manhã desta terça-feira (20), a pesquisadora vinculada à Unicamp fez a conferência de abertura do 13º Encontro Anual de Extensão (Enaext), inserido no 20º Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão (Enepe) da Unoeste.
 
Autora de vasta produção científica vinculada às práticas de extensão, na qual está incluída a publicação de 16 livros, a conferencista desenvolveu sua fala numa construção dialógica entre causas e efeitos, considerando a sociedade como o todo social, do qual a universidade é parte. Enquanto parte, deve pensar na formação de técnicos de melhor qualidade para garantir avanço da produção, da produtividade e da eficiência econômica. “Promover a difusão do conhecimento e a formação de técnicos e de novas tecnologias são elementos fundamentais das relações entre universidades e sociedades”, pontuou.
 
Para ela, a noção de ciência neutra e ciência crítica, como saber científico superior, precisa ser repensada. Entende que a ciência pode até ser crítica, mas não é neutra na medida em que procura atender a sociedade, mesmo que a um grupo homogêneo. Outros saberes, que não somente os científicos, estão presentes no dia a dia das pessoas, pelo senso comum ou pela arte e ainda na ética, associados aos valores culturais. Porém, são considerados inferiores e isso leva à produção de uma ciência alienante, que não produz conhecimento que transforma e tende a formar profissionais e até cientistas ingênuos.
 
“Para romper com esses paradigmas, a universidade precisa formar profissionais no sentido do pensar crítico. Pensar no espaço e tempo, na causa e no efeito, na essência do conhecimento, na identidade e, principalmente, na economia; onde o todo não é a somatória de partes, mas de uma totalidade nova, onde sociedade e universidade estão no mesmo patamar, sendo a universidade a própria sociedade”, disse para defender o pensamento de que essa relação não deve se limitar às aparências e que a universidade não pode ser vista como entidade independente. “No novo pensar da extensão, a universidade não é algo a parte da sociedade, pois está dentro do contexto, sendo a própria sociedade”, afirmou.
 
A pesquisadora contestou a indissociabilidade da extensão com o ensino e a pesquisa, ao dizer que isso nem sempre acontece. Disse que, se fosse mesmo inseparável, teria os mesmos pontos conferidos à pesquisa pelos órgãos de fomento. Em referência à sua área de formação profissional, a conferencista exemplificou que o profissional recém-formado vai para o campo e não domina todos os conhecimentos dos produtores agropecuários, que sabem muitas coisas que os universitários não sabem, impossíveis de adquirir em quatro anos de curso. “Quando vamos para o campo, então percebemos o quanto não sabemos”, comentou.
 
Contou que logo que se formou (1969), pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) em Piracicaba, foi trabalhar em Araçatuba. Como sua atuação era na área de conservação do solo, precisava de teodolito para marcar as curvas de nível. Pela dificuldade em encontrar o instrumento, disse aos produtores rurais que teria de esperar alguns dias para iniciar o trabalho. Eles, então, apresentaram a solução de usar mangueira transparente, cheia de água, para tirar o nível. O conhecimento popular permitiu suprir a falta do teodolito. Para ela, a lição que ficou foi a de que o conhecimento científico é importante, mas o popular também.
 
Ao dizer que o cientista não é o dono do saber, defendeu a atuação conjunta para edificar novos conhecimentos; estando o pesquisador aberto para aprender como realmente ensinar a empoderar a comunidade. Nesse sentido, citou o seguinte pensamento de Paulo Freire: “Por isso mesmo é que, no processo de aprendizagem, só aprende verdadeiramente aquele que se apropria do aprendido, transformando-o em apreendido, com o que pode, por isso mesmo, reinventá-lo, aquele que é capaz de aplicar o aprendido-apreendido a situações existenciais concretas”.
 
Em outros momentos também fez citações de Freire, com o qual esteve no Chile, onde ele passou parte do exílio imposto pelo regime limitar e trabalhou no Instituto Chileno para a Reforma Agrária (Icira). Em sua conferência no Enaext ainda recorreu aos pensamentos construídos por seus colegas pesquisadores Boaventura de Souza Santos e Carlos Rodrigues Brandão. Foi objetiva em sua fala para, em seguida, responder perguntas da plateia formada por pesquisadores, professores e estudantes universitários. Agradeceu a Unoeste pelo convite, na pessoa da coordenadora de ações gerais extensivas da Pró-reitoria de Extensão e Ação Comunitária (Proext), Cidinha Martines.
 
Disse ao público ter sido a primeira vez que esteve na Unoeste, classificando-a como instituição bastante imponente, com diversos cursos e importante na área da ciência e tecnologia. Falou isso logo no início da conferência com o tema “A extensão do conhecimento que transforma”.  Pela Proext, a abertura do Enaext 2015 foi feita pelo pró-reitor Dr. Adilson Eduardo Guelfi que falou da extensão como um canal que propicia interação da universidade com a sociedade, que tem aplicação de impacto visando a transformação social no entorno de onde se encontre instalada e que proporciona conhecimento gerador de tecnologia e inovação, resultando em empreendedorismo, gerando emprego e renda.
 
Também esteve presente o pró-reitor Acadêmico Dr. José Eduardo Creste, representando o chanceler da Unoeste, professor Agripino de Oliveira Lima Filho, e a Reitora Ana Cardoso Maia de Oliveira Lima. Entre os dados apresentados pelo cerimonial referente ao Enepe 2015, ao todo foram inscritos 1.458 trabalhos, 11% superior em relação ao ano passado.

Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste

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