Literatura ajuda o debate sobre sexualidade em sala da aula
Porém, professores manifestam receio em tratar o tema no ensino médio, diante de hostilidade de pais de alunos



O cenário de abordagens sobre sexualidade, por meio da literatura, em salas de aula do ensino médio, revela a oportunidade e importância em tratar do tema e mostra o receio de professores diante da hostilidade de pais de alunos. É o que constata pesquisa feita junto ao mestrado em Educação da Unoeste pela professora de letras que leciona num centro de línguas em Presidente Prudente, Paula Renata Hanke da Silveira.
A defesa pública de sua dissertação ocorreu, na tarde desta quarta-feira (15), avaliada pelos doutores Sérgio Fabiano Annibal (orientador), Helena Faria de Barros e Raquel Lazzari Leite Barbosa, convidada junto à Unesp, em Assis. O trabalho, produzido ao longo dos últimos dois anos, recebeu o título de “A discussão da sexualidade por meio do ensino de literatura: representação de professores de língua portuguesa”.
Na pesquisa de cunho qualitativo e com o emprego de entrevista semiestruturada, Paula ouviu três professoras e um professor. O propósito de ouvir profissionais dos sexos feminino e masculino esteve voltado à variação de gênero. E como parte do enriquecimento das informações, também promoveu variação por tempo de carreira. Assim, os entrevistados foram professores de 4 a 27 anos de magistério.
As falas receberam interpretações por meio de análise de conteúdo. “O objetivo era analisar de que modo esses professores de língua portuguesa no ensino médio lidam com o texto literário que aborda sexualidade. Como encaram o assunto, na condição de leitor, e como professor. Fato é que todos acreditam na importância da discussão do tema nos aspectos social e cultural, pelo viés do fenômeno estético que é a literatura”, diz a autora da pesquisa.
Ela revela que, por outro lado, os professores consideram o assunto espinhoso de ser debatido no ambiente escolar, pelo receio da reação hostil dos pais, principalmente em relação aos filhos mais jovens. Numa das entrevistas consta que uma mãe, indignada, procurou a professora para dizer que se quisesse que a filha recebesse informação sobre sexualidade, ela mesma se encarregaria de instruí-la em casa. Comportamento que remete à cultura brasileira de que a escola é um espaço sagrado, por conta da origem do ensino gerido por religiosos.
Os assuntos foram tratados com os professores em três categorias. A primeira levou em conta a representação da leitura literária, ensino de literatura e discussão da sexualidade por meio de literatura. A segunda abordou as representações de discussão do tema sexualidade em aulas de língua portuguesa versus momentos específicos de debates. A terceira pontuou a leitura regulada socialmente, dos tempos em que mulher honesta não poderia conhecer sexo e sexualidade.
Há toda uma cultura enraizada que, ainda nos dias atuais, tem a sexualidade como tabu, enquanto tema de debate em sala de aula. Os professores que responderam à pesquisa contaram que existem meninas que recebem o assunto com repugnância e os meninos manifestam reações possíveis de detectar a demonstração de que procuram mostrar um pouco mais sobre o que realmente conhecem do assunto.
Meninas também se mostram mais maduras, entre aqueles que se predispõem em debater o tema. Em relação aos meninos, apresentam um pouco mais de coragem e apresentaram postura de naturalidade. Todavia, no quadro geral os professores percebem que falta diálogo entre pais e filhos, o que torna o assunto complexo e polêmico de ser tratado em sala de aula, mesmo com o olhar proporcionado pela visão artística da literatura.
Paula obteve aprovação para receber o título de mestre em Educação junto à Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação, com elogios dos três componentes de banca da avaliação. A pesquisa atendeu as exigências necessárias. A dissertação foi desenvolvida com coerência metodológica e análise, bem escrita, em linguagem fácil de ler e com abordagem satisfatória sobre o assunto.
Durante os quatro anos da graduação, Paula fez iniciação científica em literatura e lecionou a disciplina, como voluntária, no curso pré-vestibular ofertado pela Fraternidade São Damião, mantida pela paróquia São Francisco de Assis, na região da Cohab de Prudente. Atualmente, leciona português, inglês e italiano no Centro de Línguas Aliança, a antiga Aliança Francesa. Também é poetiza e assina suas produções como Paula Hanke.
Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste