Movimento pede revalidação para médicos estrangeiros
Em Presidente Prudente, estudantes de Medicina e médicos fizeram passeata no calçadão da Maffei



No último sábado (25), estudantes e médicos de todo o país fizeram manifestação contra a atual proposta do governo federal de importar médicos estrangeiros para trabalhar em regiões desassistidas do Brasil, sem a necessidade da prova de revalidação de diplomas. O movimento nacional Revalida Sim! também teve adesão em Presidente Prudente, por meio de acadêmicos, profissionais e entidades da classe médica que organizaram uma passeata no calçadão da Maffei. Com nariz de palhaço, caras pintadas e cartazes de reivindicação, os manifestantes pediam ao governo a obrigatoriedade da prova de revalidação e melhor estrutura de trabalho. Os alunos ainda entregaram panfletos sobre o movimento e colheram assinaturas da população a favor da revalidação, assim como ocorre em todo o país.
A ação contou com a presença dos coordenadores do curso de Medicina da Unoeste, os médicos Michel Jorge Cecílio e Nilva Galli, do presidente e da diretora de comunicação da Associação Paulista de Medicina (APM) – regional de Presidente Prudente – os médicos Venceslau Balizardo e Deusita Fernandes Gandia Soares, contou com o apoio do Sindicato dos Médicos de Presidente Prudente, por meio do presidente Roberto Hiroshi Hasimoto e do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).
“A nossa manifestação não é contra a entrada dos colegas estrangeiros no país, e sim como o governo quer que seja a entrada deles”, relata Nilva. Ela pontua que a prova de revalidação é obrigatória a todos os médicos que fizeram a faculdade de Medicina fora do país, sendo esta uma forma de os ministérios da Educação e da Saúde saberem se esses profissionais estão aptos ou não para atender os usuários brasileiros.
Segundo Nilva, foi feito um levantamento pelos conselhos regionais e Federal de Medicina que apontou que o Brasil tem médicos suficientes e o que existe é uma má distribuição, justamente pela falta de estrutura adequada nas regiões carentes. “Nessas áreas, o médico não tem condições de trabalho e nem infraestrutura, além disso, existe a ausência de demais profissionais da área da saúde que juntos podem oferecer o atendimento básico de saúde. Precisamos de suporte para que possamos oferecer uma assistência apropriada aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS)”.
Cecílio frisa que a manifestação pede uma postura que o próprio Ministério da Saúde preconiza: uma atenção básica à saúde da população brasileira. “Educamos nossos acadêmicos para que eles tenham noção do bom atendimento à população, sendo que o próprio governo tem as medidas nacionais de educação em medicina. Cada país tem suas características e peculiaridades na saúde, por isso, temos que saber se o profissional que se formou fora do país, e vem atuar no Brasil, conhece de fato a nossa realidade”.
A presidente do Diretório Acadêmico de Medicina, Janine Cristina Gonçalves, do 6º termo, acredita que essa proposta do governo põe em risco a saúde da população mais carente. Segundo ela, pelo Código de Ética, os médicos não podem aceitar trabalho em locais que não oferecem a estrutura básica de trabalho. “Se o paciente vem a óbito, ainda que seja por falta de estrutura, o médico é responsabilizado”, comenta.
Para ela, o governo está querendo “maquiar” a verdadeira situação do país, passando a imagem de que faltam médicos. “O Brasil tem a quantidade de médico recomendada pela Organização Mundial de Saúde, o que existe é uma má distribuição e uma péssima estrutura nessas regiões”, salienta, explicando a frase do cartaz “Brasil, nos dê condições de trabalho e verás que um filho teu não foge à luta”. Segundo a estudante, durante a ação foram obtidas pelo menos 1,5 mil assinaturas, que somadas com as assinaturas colhidas nas outras cidades de diferentes estados brasileiros serão encaminhadas ao Congresso Nacional.
O médico Roberto Hiroshi Hasimoto salienta que o Sindicato dos Médicos apoia o movimento, pelo fato de observar problemas na vinda de médicos estrangeiros da maneira proposta no Decreto. “A manutenção do exame é, na nossa maneira de ver, ainda a melhor situação para se analisar a condição de formação dos médicos ‘de fora’, e permitir a sua vinda para trabalhar no Brasil”, afirma. Para ele, é essencial que seja analisada a qualidade do ensino médico nos outros países. Aponta ainda que a situação é “preocupante”, pois o índice de aprovação dos médicos nos dois exames aplicados é baixo, sendo que em uma prova foram 65 aprovados de 667 inscritos e no outro exame somente duas aprovações de 510 inscritos.
O presidente do sindicato avalia ainda que a tendência é que esses profissionais estrangeiros saiam dessas regiões carentes. “Com o tempo, o indivíduo deslocado para áreas mais isoladas, com condições de trabalhos piores, vai querer se transferir para locais que lhe proporcionem melhor qualidade de vida e as regiões de origem vão continuar desassistidas”, avalia. Para ele, o Brasil possui um número adequado de médicos, porém, o país oferece “condições de trabalho inadequadas, ganhos insuficientes, sendo estes alguns dos motivos que levam esses profissionais a permanecer nos centros onde possam ficar com suas famílias, viver melhor, etc”, completa.
Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste