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Vida comunitária no Areia Branca é conduzida por mulheres

Em comemoração ao dia internacional dedicado a elas é realizado o maior evento da história do assentamento


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Foto: João Paulo Barbosa Vida comunitária no Areia Branca é conduzida por mulheres
Dona Lourdes e Isaias, na barraca de artesanato


O censo brasileiro de 2010 revelou que para cada 96 homens são 100 mulheres e que na última década saltou de 22,2% para 37,35% as famílias chefiadas por elas. Desde 1º de janeiro de 2011, o Brasil é comandado pela economista Dilma Rousseff e tem crescido o número de mulheres executivas. Elas mandam cada vez mais. A estratificação segue a risca no assentamento Areia Branca, o mais antigo dentre os promovidos pelo governo paulista em terras devolutas no Pontal do Paranapanema, no município de Marabá Paulista. Um grupo de mulheres responde pela condução da vida comunitária.

Por conta delas é que ocorreu no sábado (9) o Agita, o maior evento em 23 anos de instalação do Areia Branca nos 1,8 mil hectares desapropriados no final de 1989. Área dividida em 87 lotes de diferentes tamanhos, variando de 16 a 20 hectares. Propriedade incrustada na imensidão de terras no espaço geográfico demarcado acima do ponto onde o rio Paranapanema deságua no rio Paraná. Uma região de areia branca que faz levantar poeira em dias secos e que se transforma em lama quando chove. Duas das muitas dificuldades enfrentadas pelas famílias de agricultores familiares, com a estimativa de que sejam 300 pessoas.

“Mas já foi pior”. Quem diz, com conhecimento de causa, é dona Lourdes. Lá chegou em 1990, entre os primeiros assentados. Já são 22 anos liderando a vida comunitária, num local em que o ponto de encontro dos moradores é a sede, onde estão: escola, posto de saúde, três igrejas – uma católica e duas evangélicas, bar e barracão de uso múltiplo em construção. O primeiro deteriorou com o tempo. O segundo está em construção, pelos próprios agricultores, também doadores dos materiais. Antes, eram frequentes os eventos comunitários. Agora, são raros, por conta do fenômeno êxodo rural, que se repete: os filhos seguem outro caminho profissional.

Além da população do Areia Branca, o Agita atraiu agricultores familiares de quatro outros assentamentos: Margarida Alves, São Pedro, Santa Carmem e Roseli Neves. O evento em comemoração ao Dia Internacional da Mulher ocorreu na escola e ofereceu vários serviços, a maioria deles prestados por alunos e professores de 21 cursos de graduação da Unoeste. Dona Lourdes estava lá, no comando e feliz. Na expectativa dos benefícios que poderão advir de parceria com a instituição de ensino superior e a Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), envolvendo a Prefeitura de Marabá.

Paulista de Andradina, nascida há 66 anos e registrada como Maria Vital dos Santos, atende por Lourdes, devido ao nome composto que recebeu no batistério. Com o marido sergipano Isaias Francisco dos Santos, que conheceu em Santo Anastácio onde viveu a infância e a juventude, tem dez filhos, além de ter perdido um recém-nascido e passado por dois abortos. Hoje, são 28 netos e dois bisnetos. Antes de se instalarem no assentamento, eram arrendatários em Mirante do Paranapanema. Inicialmente cultivaram lavouras, entre as quais a de algodão. Nos dias atuais são donos de uma boiada de 40 cabeças de gado mestiço.

A propriedade de 19 hectares da família Santos fica a 2,5 km da sede, para onde se locomovem a pé. “Nosso carro está nas pernas”, brinca. Vão ao mercado uma vez por mês. Preferem em Mirante. São cerca de 30 km, 18 a menos que Marabá. Numa emergência vão ao distrito de Cuiabá Paulista, a 12 km. “Nossos filhos levam. O caminhão do mercado entrega as compras”, conta. A água é encanada, de um poço artesiano de uso coletivo. Tem energia elétrica. No começo dos anos 90, buscavam água longe e lavavam roupa no riacho aos fundos do sítio. Depois, fizeram um poço que agora está aterrado com o lixo doméstico, incluindo folhas e galhos de pelos menos 200 árvores que plantaram no quintal com duas casas.

A casa onde moram tem seis cômodos e uma enorme área, com dez metros de extensão pela frente e oito na lateral da frente e dos fundos. Em alvenaria, foi feita por um filho pedreiro. A outra casa é de madeira e está vazia, desde que o último filho mudou-se para a cidade. Os filhos moram em Costa Machado, Marabá, Anastácio, Primavera e Prudente. O casal ouve rádio o dia todo, desde o amanhecer. À noite assistem TV, com o sinal captado por antena parabólica. Contam que é tudo muito tranquilo, sem violência. Todavia, tomam cuidados para não serem surpreendidos por assaltantes. São orientados por um filho policial militar.

Comparando com os vários problemas de quando chegaram, incluindo a moradia que era num barracão com chão de areia, dona Lourdes conta que melhorou muito. Espera por outras melhorias, a maior parte no campo da assistência técnica ofertada pelo Itesp, com a expectativa de que a parceria com a Unoeste poderá contribuir para rebanhos mais saudáveis. O de sua propriedade é para negócios, mas a maioria cria gado de leite. A estimativa é de que o assentamento produz dois mil litros por dia, vendidos para os laticínios Oeste Paulista, de Piquerobi, ou Nova Mix, de Teodoro Sampaio.

Alguns trabalham com olericultura, que compreende hortaliças e raízes. Os produtos são comprados, em grande parte, pelo governo do estado para abastecer escolas e presídios. O que ocorre pelo Programa Paulista de Agricultura de Interesse Social (Ppais). O perfil econômico do Areia Branca é esse. A história de vida de dona Lourdes é a representação dos assentados, com o diferencial de que, além de ajudar o marido na lida com o gado e de fazer os serviços domésticos de uma casa bem cuidada, confecciona produtos artesanais e toma frente nos eventos comunitários. O que não falta ao casal é disposição: pulam todos os dias de carnaval em Mirante e na sala exibem um troféu que ganharam pelo bloco, do qual fazem parte, como os mais animados. “Tenho orgulho de morar no Areia Branca”, afirma.

Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste

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