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Conflito escolar é um problema que pertence aos envolvidos

Solução para indisciplina discente requer ações coletivas, reorganização curricular e relações interpessoais


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Foto: João Paulo Barbosa Conflito escolar é um problema que pertence aos envolvidos
Doutora Ana Aragão ao ministrar a aula inaugural do mestrado em Educação
Foto: João Paulo Barbosa Conflito escolar é um problema que pertence aos envolvidos
Aula prestigiada por estudantes e profissionais da educação
Foto: João Paulo Barbosa Conflito escolar é um problema que pertence aos envolvidos
Doutoras Raimunda, Camélia e Ana Aragão


Alunos que ignoram a presença do professor em sala, jogam truco durante a aula e fumam em classe. Como não bastasse, agridem verbal, moral e fisicamente o professor. Essa era a realidade de uma escola na periferia de Campinas (SP), que passou por processo de transformação, num projeto em que esteve envolvida a especialista em psicologia educacional, Dra. Ana Maria Falcão Aragão. Vivência da qual extraiu o entendimento de que conflito escolar é um problema pertencente a todos os envolvidos: a escola como um todo, famílias e a comunidade. Ao ministrar a aula inaugural de 2014 do Programa de Mestrado em Educação da Unoeste, durante a tarde desta quarta-feira (26), aconselhou estudantes, professores e gestores educacionais: a solução para indisciplina discente deve contar com ações coletivas, reorganização curricular e relações interpessoais.

Com foco no tema “Indisciplina discente e formação docente: uma articulação necessária”, a pesquisadora vinculada à Unicamp pontuou que a formação de professores não deve se restringir à preocupação com os processos de ensino e de aprendizagem, mas ter visão do aluno, da escola, da família e da comunidade. Outro aspecto é formação reflexiva, dentro de uma proposta em que o professor não desassocie teoria e prática. “Refletir é diferente de pensar. Reflexão é não desassociar teoria e prática. É preciso buscar na teoria os fundamentos da prática e buscar na prática a construção da teoria. Além de que, a reflexão tem que ocorrer de forma sistemática e coletivamente”, disse.

Para Ana Aragão, quando se fala do trabalho a ser desenvolvido na escola, aí está inserida a parceria, marcada pela interdependência e respeito mútuo. “É chamar a mãe e contar o que a escola fez e sugerir o que ela deve fazer em casa”, exemplificou. “Parceria é um processo que se constrói. Exige que possamos nos mostrar ao outro e ele se mostrar a nós”, comentou e ilustrou sua fala com o caso da professora que chamou o pai diante do caso de aluno indisciplinado, o qual levou o filho para casa e este somente retornou à escola quatro dias depois, com uma das mãos enfaixadas, porque o pai arrancou as unhas de três dedos. Faltou diálogo entre as partes, na busca de solução pacífica. Nesse sentido é que a pesquisadora defende o trabalho coletivo, com uma condição: desde que se construam espaços de conversas frequentes e sistemáticas.

A transformação da escola campineira, trabalhada de 2003 a 2008, se deu ao custo da insistência de muito diálogo. Todas as partes foram envolvidas. O projeto elencou os problemas – indisciplina, adolescência, motivação, aprendizagem e ensino – para traçar as diretrizes. As alterações se deram pelo diálogo e foram ocorrendo gradativamente, sem pressa. Aplicou-se o conceito de que a direção é mais importante que a velocidade. A escola de 540 alunos possuía cinco salas, 15 classes e pouco mais de 30 professores, com aulas do ensino fundamental em três períodos: manhã, tarde e noite. Uma das primeiras medidas práticas foi mudar a forma de trabalhar com o aluno. Os professores decidiram passar mais tempo com eles, concentrando suas aulas num só dia, nas duas classes mais indisciplinadas. Nas demais, adotaram aulas duplas ou triplas.

Com essa medida, conseguiram viabilizar aulas mais desafiadoras, incluindo atividades externas como visitas à Usina Hidrelétrica de Barra Bonita (SP) e ao Museu de Língua Portuguesa, em São Paulo. Cada uma das 15 classes teve três excursões didáticas por ano, custeadas pelo projeto de pesquisa com o aporte da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São (Fapesp). “Seduzimos o aluno para o conhecimento. Oferecemos um conjunto de referências, sem soluções mágicas. Trabalhamos a relação escola e universidade, instituições produtores de conhecimento. Trabalho centrado na escola e não sentado na escola”, utilizando esta última frase emprestada no pesquisador português Rui Canário, que tem sua produção científica voltada para transformar problemas em soluções.

Na escola em Campinas, a aposta foi no ensino qualificado, crença no diálogo entre universidade e escola e desejo de participar da construção de uma escola pública democrática e de qualidade. Professores passaram a ter reuniões de seis horas por semana, discutindo assuntos levantados por eles próprios, pelos alunos, pelos pais e pela comunidade. Aos alunos foram dadas voz e vez, com assembleias de classe quinzenais, além de poderem deixar bilhetes com críticas, sugestões e elogios. O projeto trabalhou princípios e não regras, a autonomia, os valores morais, a sanção por reciprocidade e o contexto como valor para o sujeito, privilegiando conhecimento e não informação. “Não basta a informação. O excesso de informação é tão ruim quanto a falta. É preciso sabedoria, que é o uso crítico do conhecimento”, disse.

Para resolver conflitos discentes, Ana Aragão sugeriu revalidar os princípios, nos quais verdade e honestidade são sempre fundamentais; não agir no improviso e controlar as emoções para não tomar decisões precipitadas; reconhecer que o conflito pertence aos envolvidos; e acreditar na capacidade que os alunos têm para solucionar problemas, o que não significa aceitar qualquer alternativa de soluções. A aula inaugural durou a tarde toda, prestigiada por alunos e professores do mestrado, incluindo a coordenadora, Dra. Camélia Santina Murgo, e a vice-coordenadora Dra. Raimunda Abou Gebran. Também estiveram presentes o pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação, Adilson Eduardo Guelfi, e a coordenadora pedagógica da Unoeste, Aparecida Darcy Alessi Delfim, que atua junto a Pró-reitoria Acadêmica. Entre os presentes no auditório dos Ipês, no campus II, esteve um grupo de gestores escolares de Presidente Venceslau.

Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste

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