Estudo sobre leishmaniose em Prudente tem projeção global
Pesquisa analisa espaço e tempo dos fatores ambientais que favorecem a dispersão da doença na área urbana

Ganha projeção internacional estudo sobre a dispersão da leishmaniose visceral no tempo e no espaço urbano de Presidente Prudente. Artigo sobre o assunto acaba de ser publicado em uma das mais importantes revistas da área de epidemiologia do mundo pelo seu alto impacto científico, a Parasites & Vectors, do Reino Unido.
Os resultados encontrados são de grande valor para orientar políticas públicas. Em termos de espaço, são três os pontos críticos com fatores associados pelos quais a doença se alastra: 1- área com cães infectados, 2- depósitos clandestinos de lixo, 3- extratos florestais e cursos de água.
Para chegar a esses dados e extrair deles elementos comprovatórios, foram necessários levantar e analisar informações. Trabalho minucioso, que incluiu pesquisadores de diferentes instituições e foi desenvolvido junto ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, na Unoeste.
Conforme o orientador do estudo, o médico infectologista Dr. Luiz Euribel Prestes Carneiro, a fase inicial da pesquisa feita pela enfermeira Loris Aparecida Felício Daniel, na condição de mestranda, foi levantar o número de cães infectados e ver, ao longo do tempo de 2010 a 2015, quais as regiões de maiores incidências.
Alta infestação – No primeiro biênio foram detectados três grandes focos, com alta infestação: 1- nas imediações do lixão (aterro sanitário) na zona leste, 2- próximo ao córrego do Limoeiro e 3- na área acima à confluência dos trechos canalizados do córrego do Veado e da Colônia Mineira, entre o shopping e o estádio Prudentão.
Conforme o Dr. Euribel, fortes ações da Vigilância Epidemiológica Municipal resultaram em média e baixa infestação em duas áreas no segundo biênio, mas nas imediações do lixão o índice continuou alto, com o surgimento de novos cães infectados. No terceiro biênio surgiu uma novidade: a região do bairro Ana Jacinta.
Nessa parte do estudo foi possível constatar como a contaminação de cães se dispersou pela cidade, a partir do 1º caso registrado, em 2009, nas áreas 2 e 3 do zoneamento epidemiológico, localizadas entre o shopping e o estádio. Em 2010, foi para o centro e depois se espalhou por todo o perímetro urbano.
Fatores ambientais – Na segunda parte, os envolvidos na pesquisa procuraram saber quais fatores ambientais estão envolvidos na dispersão do vetor, o mosquito palha. Foi a partir daí que, com trabalho minucioso e de acordo com critérios científicos, chegaram aos três pontos críticos que apontam fatores associados.
Assim como o lixo atrai o cachorro, este por sua vez, devido ao sangue ser quente, atrai o mosquito. Ambos os casos são possíveis interferências em busca de solução. Mas, os depósitos de lixo clandestino são muitos e se multiplicam pela falta de educação ambiental e também pela existência de enormes vazios urbanos.
A especulação imobiliária faz parte do grave problema e de forma muito decisiva, sendo que onde ocorre a expansão da leishmaniose, certamente acontece o mesmo com a dengue, cujo vetor é o mosquito Aedes Aegypti. Já os recursos naturais, os extratos florestais e cursos de água, são intocáveis.
Políticas públicas – Esses dados todos, ofertados pelo estudo científico, são de importância para o cumprimento ou criação de novas políticas públicas. E são reforçados pela agravante de seis pessoas terem sido acometidas pela doença, entre 2013 e 2017, das quais duas vieram a óbito, o que representa 33,3%.
Percentual que reafirma a alta letalidade da leishmaniose visceral, pois se não for detectada precocemente pode levar à morte e de forma muito rápida, conforme alerta Carneiro que tem atuado na ciência com diferentes estudos sobre essa doença que está classificada entre as que são consideradas negligenciadas no mundo.
Doença presente nos cinco continentes e que atinge, principalmente, países pobres e em desenvolvimento, de clima tropical a subtropical. Daí um dos motivos, inserido na qualidade da pesquisa, do interesse da publicação do artigo pela renomada revista Parasites & Vectors de prestígio global.
Instituições – O estudo de caráter interinstitucional, além da Unoeste e do Hospital Regional (HR), envolveu ainda o Dr. Edilson Ferreira Flores, chefe do Departamento de Estatística da Unesp em Prudente, e sua aluna em iniciação científica Lenira André; e André Gonçalves Vieira, biólogo da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semea), especializado em ecologia e monitoramento ambiental.
Também teve os envolvimentos da enfermeira e médica Lívia Cafundó Almeida, que fez parte do estudo enquanto cursava Medicina na Unoeste; a pesquisadora científica Lourdes Zampieri, do Instituto Adolfo Lutz em Prudente; e a diretora da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), Ivete da Rocha Anjolete.
De acordo com o Dr. Euribel, cada um contribuiu com sua expertise, o que foi fundamental para chegar aos resultados alcançados que ainda oferece outro dado interessante: o da doença não atingir os condomínios fechados, por causa dos cães saudáveis e contidos nas residências de seus proprietários.
Serviço – Confira a publicação neste link.
Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste